Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

Coluna 60

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Quando a última árvore tiver caído,
Quando o último rio tiver secado,
Quando o último peixe for pescado,
Vocês vão entender que dinheiro não se come.

(Greenpeace)

Alguém aqui já se sentiu ET?

Olá queridos leitores, imagino que muitos de vocês assim como eu, se sentem permanentemente, ou alguma vez já se sentiram, ETs.

Bem, com as barbaridades que vejo e leio sobre a monstruosidade que estão fazendo com a nossa Amazônia, um crime inafiançável, cada vez mais me sinto uma extraterrestre. Quem luta, quem se preocupa com essa questão, parece meio maluco, não tem mais o que fazer, sempre fica como o errado, o fanático e por fim ainda passa por muito chato... Por que será? O mundo está do avesso ou sou eu que estou? Acho que vim parar no planeta errado, eu esperava por um outro muito mais “HUMANO”, onde os SERES, todos eles, pudessem viver em harmonia e não numa guerra, como se houvesse uma dicotomia entre esses dois mundos – o natural e o urbano!

Eu sou urbana sim, mas amo a Natureza e os Animais mais do que tudo e não estou à parte dela, muito pelo contrário, sou sua aliada. Acho que os protetores de animais, os ambientalistas se sentem muito sozinhos nessa luta contra a ganância, a falta de respeito e humanidade... as pessoas têm tanto com que se preocupar que não tem vontade de reivindicar, lutar e fazer pressão real para que tudo de errado mude. E assim vem a acomodação, as coisas só pioram... se TODO MUNDO fosse pra ruas... mas estamos muito cansados e a vida continua, por enquanto, até não acabarem com a Humanidade, destruindo TUDO!

Segue abaixo uma resposta muito bem dada à Folha de São Paulo, pelo José Jantalia, que recebi na lista Libertação Animal, junto com a matéria original do jornal, um artigo do Diretor Presidente da Ong essência Vital , Marcos A. Andrade de Melo, para reflexão e ainda um belo texto do escritor catarinense Rubens da Cunha.

Abraços.

A FOLHA ERROU

Lamentável o ponto de vista jornal Folha de São Paulo, externado por intermédio do editorial "Direito de Animais", publicado na edição de hoje (11/07/05). Tragicômico, o texto é uma negação do próprio título.

Justificar a utilização de animais em aulas de vivissecção alegando ser a "natureza cruel", e omitir completa e sumariamente os métodos alternativos, procedimentos defendidos por uma plêiade de profissionais da medicina mundial, foi uma irresponsabilidade sem precedentes da Folha. Qualificar de "românticas" as reivindicações das entidades protetoras de animais, este sim foi um ato, no mínimo, de deboche e, no máximo, sádico por parte do jornal. Afirmar que "em breve surjam simuladores realistas o bastante para que se possa prescindir da utilização de animais", demonstrou um total desconhecimento do jornal com relação aos métodos "cruelty-free" (sem crueldade), utilizados hoje em larga escala na Europa e nos Estados Unidos, ou do exposto na obra "A Verdadeira Face da Experimentação Animal - A Saúde em Perigo", de autoria de Sérgio Greif e Thales Tréz, formados em Biologia sem o sacrifício de um animal sequer. Ao contrário de simplesmente escrever que a não utilização de animais vivos "seria contraproducente para a ciência e a medicina, as quais procuram produzir benefícios para o conjunto da humanidade", a Folha poderia ter citado o clássico e notório exemplo da talidomida que, testada em animais e considerada segura, provocou conseqüências devastadoras nos seres humanos, prova que existem enormes variações fisiológicas entre ratos, coelhos, cães, porcos, e seres humanos.

Antes de adjetivar o movimento de proteção animal como romântico, a Folha poderia ter contado aos leitores como funciona o método de experimentação animal Draize (aplicados inclusive para produção de cosméticos...), ou então como são os Testes de Inalação, ou mesmo aqueles quando substâncias são pingadas nos olhos de coelhos vivos e conscientes, para determinação do grau de toxidade, sendo que os animais ficam imobilizados por vários dias, sem poder fechar os olhos. Enganou-se a Folha, e muito, ao publicar que "por enquanto, estudantes ainda precisam praticar em organismos vivos": a "Solução de Larssem" poderia ter sido enfocada pelo periódico, que estranhamente não o fez.

Por fim, a "suposta ética" que a Folha deveria pautar a sua precária e obscura argumentação, credenciou o periódico a também defender a evolução da medicina por intermédio das macabras experiências praticadas com seres humanos nos campos de concentração. Afinal, tudo em nome da evolução, não é mesmo?
 
JOSÉ JANTÁLIA
josejantalia@uol.com.br

FOLHA DE S. PAULO - 11/07/2005 - Editorial

DIREITO DE ANIMAIS

A natureza é cruel. Essa é uma lei universal que pode ser depreendida da simples observação das relações ecológicas entre espécies e indivíduos. Reconhecer esse fato deveria ser um pré-requisito para os defensores de direitos dos animais. Infelizmente, não é, e freqüentemente surgem reivindicações românticas pelo fim da utilização de animais em pesquisas e no ensino.
Ceder a esses apelos pode ser tentador - principalmente para quem queira agradar a um grupo grande e influente de defensores de animais -, mas seria contraproducente para a ciência e a medicina, as quais procuram produzir benefícios para o conjunto da humanidade.
Exceto pelos sádicos, nenhum cientista aprecia sacrificar cobaias, mas existem inúmeras situações em que isso é crucial para pesquisas que podem em princípio resultar em importantes avanços médicos. Um exemplo eloqüente é o de experimentos que visam a verificar o efeito da injeção de células-tronco sobre órgãos avariados. Aqui não há como escapar ao sacrifício do animal para autopsiar o órgão e saber se houve ou não a regeneração pretendida.
O mesmo vale para o ensino médico. Cirurgiões não nascem prontos. É até possível que em breve surjam simuladores realistas o bastante para que se possa prescindir da utilização de animais. Mas, por enquanto, estudantes ainda precisam praticar em organismos vivos.
Reconhecer a necessidade de utilizar animais não significa que devamos maltratá-los. Em muitos casos, as cobaias podem ser anestesiadas. E o uso de animais deve ser limitado às situações em que isso seja imprescindível. Só o que não faz sentido é afirmar que existe um impedimento moral absoluto a todo tipo de pesquisa que implique sacrifício ou dano de outros seres vivos.
Se levássemos essa suposta ética ao extremo, só poderíamos nos alimentar de frutas e e outras partes de vegetais cujo consumo não implique a morte do espécime.


Matéria muito interessante para reflexão

A Essência Vital é uma Organização Não Governamental que adota como um de seus princípios éticos e estatutários a defesa irrestrita de todas as formas de vida animal. Costumamos dizer que nossa ecologia começa no prato , pois todos os membros de nossa diretoria são vegetarianos. Sendo assim, nossa compreensão sobre Ecologia envolve um comprometimento, alinhamento e coerência de posturas entre o que pensamos, sentimos, falamos e realizamos pelo bem real de nossa Casa Planetária.

Diante de notícias como a que apresentamos abaixo , e que mesmo tendo sido publicada há um mês não perde sua atualidade, é que nos indagamos e sugerimos o questionamento: por que nós, seres humanos, sofremos tanto com tantas doenças incuráveis, com tantas epidemias e catástrofes, com tantas guerras fraticidas, homicídios e violências das mais diferentes matizes? Por quê?

Se os budistas, hinduístas, espíritas, entre outros, estiverem certos quanto ao que chamam "Lei do Karma" (Lei Cósmica de Ação e Reação), talvez nela se encontre a devida explicação para estes ciclos de sofrimento "impostos" a nós, seres humanos, como forma de compensação pelo que geramos de dor e morte com nossas ignorâncias, diariamente , contra milhões de vidas indefesas.

Seja no matadouro "moderníssimo" onde a assepsia é impecável e as pistolas pneumáticas assassinam, com tiros "sem dor", bois, vacas e bezerros, ou na base das porretadas impiedosas, o certo é que nossa cegueira e total falta de sensibilidade para com o reino animal jamais nos concederão as bençãos da felicidade verdadeira. Como assassinos diretos e cúmplices "inocentes" jamais usufruiremos o dom da vida com a paz e a alegria de uma humanidade terna, saudável e fraterna.

Só nos EUA mais de 7 bilhões de animais (excluindo os peixes) são abatidos por ano para uso na alimentação. Mais do que toda a população mundial!

Recentemente a Inglaterra teve que matar cerca de 8 milhões de cabeças de gado contaminado pelo que se convencionou denominar “doença da vaca louca”, e a China exterminou 15 milhões de aves por causa da "gripe asiática".

Nos alimentamos da morte e, consequentemente, se uma Lei Kármica de fato existe, só poderemos colher morte como recompensa. Se nos esforçássemos por sutilizar nosso paladar, abríssemos nosso coração e ouvíssemos sábios e gênios da humanidade como Pitágoras, Sócrates, Platão, Plutarco, Plotino, Buda, Krisna, Gandhi, Yogananda, São Francisco, Jesus (http://www.ivu.org/history/christian/index.html), Newton, Einstein, Edson, Tolstoy, Shaw, Shelley, Thoreau, Campbell, entre muitos outros – todos vegetarianos - creiam: a maioria dos nossos problemas modernos seriam solucionados.

Sabe quem são os maiores desmatadores de nossas florestas?

Não são as madeireiras como poderão afirmar alguns ecólogos, mas sim os pecuaristas, aqueles que desmatam gigantescas áreas de terra para pasto! Procurem ver os último dados do Ministério do Meio ambiente sobre os desmatamentos na Amazônia e tirem suas conclusões.

Sabe um dos principais motivos para a falta de água que começa a preocupar governos do mundo inteiro?  

São necessários cerca de 100 litros de água para produzir meio quilo de trigo e 1.500 litros para produzir meio quilo de carne bovina.

Sabe por que existe fome no Mundo?

Não é só por causa da concentração de riquezas, mas também, basicamente, por que 91% dos cereais produzidos no mundo são dados como alimento para animais de corte. Em média são gastos 7 quilos de cereal para conseguirmos meio quilo de carne.

Sabe por que existe câncer - entre diversas outras doenças - e porque ele "não tem" cura?

Porque não existe carne de origem saudável, que seja colhida ou que caia do pé de madura. Todas são cadáveres, fruto de violência e com altíssimas taxas de microorganismos nefastos à nossa saúde além de conterem inúmeros produtos químicos cancerígenos como hormônios sintéticos, antibióticos, corantes..., utilizados na criação, engorda e armazenamento.

O Dr. J. H. Kellog, médico famoso por suas teses polêmicas no final do século 19, fundador das Indústrias Kellog's de alimentos matinais e ardoroso defensor do vegetarianismo, realizou pesquisas com carnes para determinar seu estado microbiano , encontrando os seguintes resultados: carne crua, 70.000 micróbios por grama; depois de cozida, 25.000; a mesma carne assada, 90.000; carne de peixe crua, 870.000; sardinha em conserva, 14.000.000; assado de lombo, 378.000.000 ; filé de vaca cozido, 25.000.000; presunto defumado analisado imediatamente após chegar ao açougue, 43.120.000; o mesmo produto 24 horas depois, 750.000.000; salsichas, 120.000.000; o mesmo produto 24 horas depois, 490.000.000, repito, por grama!

Poluímos nosso ar, degradamos nossa água, contaminamos nossa terra, matamos nossos animais e comemos seus corações. Choramos a morte dos nossos entes enquanto a Mãe Natureza chora a morte dos seus. O bicho Homem é o único que destrói seu próprio habitat e preda o que não lhe é necessário à subsistência.

Um mestre indiano que viveu na Indochina no século X, chamado Ramatis, disse que jamais haverá paz na Terran e jamais deixarão de existir guerras horrendas enquanto as criaturas humanas não abandorarem a alimentação carnívora e deixarem seus irmãos menores evoluirem em harmonia e liberdade com as sagradas Leis de Equilíbrio da Natureza.  

Talvez precisemos de mais humildade para compreendermos estas verdades.

Marcos A. Andrade de Melo

Dir. Presidente - Ong Essência Vital

 

Crônica do escritor Rubens da Cunha (publicada no Jornal A Notícia, de Joinville, e cedida gentilmente pelo autor)

Os cães na universidade

Na sempre luta entre cães e gatos, sou afeito mais aos felinos.

São animais, que apesar do processo de domesticação, não abandonaram sua alma selvagem. Os cães são simpáticos, brincalhões, demonstram melhor os sentimentos, mas carregam nos olhos uma irritante subserviência aos humanos. O lobo que foram não existe mais. Em todos os gatos ainda há resquícios de tigre.
É no abandono que se vê o quanto os cães são mais frágeis, o quanto eles parecem mais com os humanos. Tornam-se sujos, sarnentos, magros, mancos. Toda a violência e rejeição reflete-se diretamente na sua aparência. Gatos de rua jamais perdem a elegância. Há neles um asseamento, um silêncio orgulhoso, sofrem dores inomináveis, mas não refletem no corpo. Certa vez vi um gato sem um dos olhos. Despertava um misto de nojo e piedade. Ele mantinha-se sereno. Percebi que qualquer sentimento inferior dos humanos em relação a ele o ofendia profundamente.
Nas últimas semanas, os corredores da Universidade da Região de Joinville (Univille) estão abrigando alguns cães. Ainda não atingiram o estágio máximo do abandono. Parecem saudáveis. Soam mais como jovens malandros curtindo a vida.
Também vi um gato andando naquelas paragens. Mas este não desestabilizava, não alterava o ordem da paisagem, era como não estivesse ali. Gatos têm esta certa invisibilidade, este mimetismo.
Já os cães fazem o serviço de desvirtuarem um pouco o espaço acadêmico. Às vezes, ficam na frente da biblioteca, olhando-se na fachada espelhada do prédio. Estudantes passam carregando livros e preocupações, provas e vaidades. E os cães brincam de enxergarem a si mesmos como se fossem outros.
Alguns dormem tão profundamente que é como se estivessem mortos. A vida acadêmica ferve, borbulha abstrações e os cães dormem. Nós, os humanos, olhamos os bichos com medo, raiva, fingida indiferença. Aquela pequena desordem na rotina dos corredores parece atrapalhar a falsa ordem que carregamos sobre o corpo. Ainda mais quando os cães não refreiam seus instintos. É visível o constrangimento nos risos nervosos. Somos tão pudicos diante do ato sexual dos animais que chega a ser cômico.
Não há cortes, máscaras, nas atitudes dos cães. Jogam na nossa cara toda a liberdade que perdemos ao desenvolvermos a civilização e como conseqüência as inevitáveis regras sociais. Eles brincam sobre o jardim onde não podemos brincar. Bebem água do pequeno lago artificial que fica na frente da biblioteca, do qual não podemos beber. Deitam-se preguiçosamente nas portas das salas. Vão e vêm sem horários, sem expectativas. Vivem sem consciência. O que sofrem é reflexo de nosso domínio sobre o mundo. Parafraseando o Filho, não estudam nem trabalham, mas ninguém consegue riqueza e inocência maior do que eles.


Esta coluna é atualizada todas às segundas-feiras