Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

Coluna 84

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Olá leitores queridos,

2006 começando, um novo ano nos espera.

Não sabemos se será melhor ou pior do que 2005 e isso não importa, o importante mesmo é acreditar que podemos fazer nossa parte no mundo, que podemos fazer mais pelo próximo, seja humano ou animal e que quando damos sem esperar nada em troca, recebemos em dobro!

Resolvi começar esse início de ano com o pé direito - uma entrevista muito interessante que mostra o quanto precisamos dos animais, o quanto nos fazem bem, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Nós, seres humanos, não nos bastamos sozinhos, precisamos do próximo para ser felizes, para nos completarmos. Necessitamos falar, sair, amar e ser amados. E esses seres MARAVILHOSOS nos completam e nos curam.

É gratificante perceber que muitas pessoas já estão reconhecendo os benefícios da convivência com eles, não apenas como animais de estimação mas como co-terapeutas, ajudando na cura de enfermidades físicas e psíquicas.

Um viva a nossos aumigos! Deliciem-se com esta entrevista que tanto me fez feliz...

Abraços esperançosos

Fonte: http://www.petsuper.com.br

INTERAÇÕES HOMEM-ANIMAL

Entrevista com Dennis Turner

ANIMAIS SÃO A CURA DO SÉCULO 21

Professor de veterinária da Universidade de Zurique, Dennis Turner defende que a companhia de cães e gatos é essencial para a qualidade de vida do homem.

Aos 53 anos, o americano Dennis C. Turner tem uma missão quase impossível. Em um mundo em que 2 bilhões de pessoas são classificadas pelo Banco Mundial como miseráveis, o cientista comportamental, doutorado pela Escola de Higiene e Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos, professor da faculdade de Veterinária de Zurique, na Suíça, e diretor do Instituto de Etologia Aplicada e Psicologia Animal (IEAP), fundação privada de pesquisa e educação, tenta convencer desde ministros da Saúde de países do Primeiro Mundo até líderes de pequenas comunidades na África do Sul a investir em programas de Terapia Assistida por Animais (AAT) "A companhia de animais beneficia não apenas deficientes ou portadores de doenças graves, mas também o cidadão comum seja qual for a sua renda familiar", diz Turner. Não só faz bem para a saúde do indivíduo, mas para a saúde pública também. "A Terapia Assistida por Animais representa uma tremenda economia para a saúde pública e obtém sucesso até nos casos em que métodos tradicionais de tratamento falharam."

A cada três anos, como presidente da Associação Internacional das Organizações de Interação Homem-Animal (IAHAIO), ele organiza conferências em várias capitais, que reúnem PhDs do mundo inteiro para divulgar resultados de estudos e experiências em que animais atuam como terapeutas para crianças, delinqüentes juvenis, idosos, mulheres com câncer de mama, deficientes e até casais em crise. Depois de passar por Praga, Genebra e outras cidades da Europa e América do Norte, a 9ª Conferência Internacional sobre Interações Homem-Animal será sediada no Rio de Janeiro.


De que maneira conhecer o comportamento animal ajuda a melhorar a qualidade de vida das pessoas?

Conhecer as necessidades físicas e psicológicas de cães e gatos nos permite entendê-los e tratá-los melhor. Somente animais saudáveis e felizes podem ser boas companhias para o homem e contribuir para nossa qualidade de vida. É particularmente importante salvaguardar o bem-estar do animal engajado nos programas de terapia assistida (AAT), para beneficiar grupos específicos de pessoas com vários males ou problemas. Precisamos, por exemplo, reconhecer os sinais de estresse ou agitação - bastante diferentes em cães, gatos e outros animais de companhia - para não fazer o animal "trabalhar" demais nem colocar em risco o paciente.


O senhor defende que os animais domésticos trazem benefícios para a saúde e qualidade de vida do homem. Que tipo de benefícios e como isso é possível?

De várias maneiras. Vamos tomar como exemplo um cidadão comum, quer dizer, alguém que não sofra de uma doença ou deficiência e precise de terapia. Apenas a presença do animal de estimação pode reduzir a pressão sangüínea, o que é uma das justificativas para o alto índice de sobrevivência de donos de animais um ano depois de terem sido vítimas de ataque cardíaco. A outra explicação é óbvia e vale para todos os donos responsáveis de cães interessados em prevenir doenças cardíacas: mais exercício diário por conta das caminhadas com o animal pela vizinhança. Donos de animais de estimação geralmente têm baixo nível de colesterol, um dos fatores que pode levar a um ataque do coração. Um estudo publicado pelo British Journal da Royal Society of Medicine indica que, ao adquirir um cão ou gato, o dono reclama com menos freqüência de pequenos problemas de saúde e desfruta de melhor qualidade de vida do que pessoas sem animais de estimação. Este efeito dura, no mínimo, 10 meses depois da aquisição - que foi a duração da pesquisa - para os donos de cachorros. Logo, não estamos falando de um "efeito novidade" que vale apenas para um breve período de tempo depois da aquisição do animal.
Pesquisas médicas em larga escala na Austrália concluíram que donos de animais de estimação se consultam com menor freqüência com clínicos gerais e requerem menos medicação do que as pessoas sem animal de estimação. O estudo que apresentarei na 9ª Conferência mostra que o dono de gato - e o de cachorro com menos intensidade - estão menos sujeitos a gastar dinheiro com saúde do que os 'sem-animal'. Já publiquei estudos que tratam de como o gato pode reduzir sentimentos de depressão, solidão e ansiedade - sentimentos que todos nós temos mais cedo ou mais tarde sem estar clinicamente doente.
Animais de companhia também se mostraram bastante prestativos para crianças tanto em casa quanto na escola. Eles aumentam a auto-estima da criança, melhoram sua integração na sala de aula, incentivam o contato social com outras crianças e aumentam sua vontade de aprender. É por isso que vamos aprovar na conferência no Rio a Declaração da IAHAIO sobre Pets na Escola. E não podemos nos esquecer da parcela da população industrializada que mais cresce: os idosos. Muitos estudos têm demonstrado a importância e os benefícios do animal de companhia na terceira idade. Quanto aos grupos de pessoas com necessidades especiais que podem receber terapia assistida por animal ou participar de atividade assistida por animal (AAA), temos estudos que comprovam a utilidade - e, na maioria dos casos, o sucesso - do animal como co-terapeuta: doentes psíquicos que não se comunicam, crianças hiperativas ou agressivas, portadores da síndrome de Down, pacientes de Alzheimer, pacientes com problemas neurológicos e deficientes físicos.


Então, se alguém quiser baixar seu nível de colesterol, a única coisa que tem a fazer é ir a uma loja, comprar um cachorro e alimentá-lo todos os dias?

Não é simples assim. Nem estamos sugerindo que a companhia - e a terapia - de animais são a solução para todos os problemas. Ter cachorro, gato, passarinhos ou um aquário em casa, na sala de espera de uma clínica ou no hospital não vai produzir os efeitos benéficos desejados - à exceção de reduzir a pressão sangüínea de quem observa os animais, incluindo o peixe nadando no aquário. Por meio de pesquisas como a que apresentaremos no Rio começamos a entender como e por que essas relações acontecem. As teorias que atraem mais a atenção são de biofilia, ligação afetiva e apoio social. Antes de qualquer benefício tangível, uma relação social verdadeira - prefiro usar parceria, no caso de um animal de estimação e seu dono - deve se desenvolver As relações normalmente começam com a observação do parceiro e depois a interação com ele em diferentes contextos. Quanto mais se aprende sobre o parceiro durante essas interações, melhor se pode atender às vontades e necessidades e maior a afeição e o respeito.


Até que ponto uma relação homem-animal pode ser considerada saudável para ambos?

Não há um padrão e as relações dependem mais da pessoa do que do animal. Podem ser intensas - o dono faz tudo para e pelo animal - ou quase inexistentes - o dono se limita a alimentá-lo. Muitos proprietários de animais de países industrializados consideram os animais de estimação parte da família e os tratam como tal. Seja como for, relações saudáveis respeitam a dignidade do animal. Uma relação se torna anormal e até patológica quando, por exemplo, há relações sexuais com o animal ou quando se comete qualquer outro tipo de crueldade (algumas das palestras vão tratar destes tópicos). Pessoalmente, considero errado apenas alimentar o animal e deixá-lo na rua durante o dia ou à noite. Nem o dono nem o animal se beneficiam desta relação.


O cachorro pode substituir o psiquiatra ou o anti-depressivo?

Minhas pesquisas com donos de gatos demonstram que os animais podem ajudar a tirar uma pessoa de ondas de depressão ou outros humores negativos. Vamos agora estender estas pesquisas a pacientes com depressão diagnosticada clinicamente. Mas eu diria que, se selecionados corretamente - no caso de cachorro, treinados - animais podem atuar como co-terapeutas sob a supervisão da equipe médica. Eles não podem nem devem substituir o psiquiatra, o psicoterapeuta, o clínico geral, o terapeuta ocupacional, mas complementar o trabalho destes profissionais oferecendo um método terapêutico adicional. E, se no decorrer da terapia, a dose de medicamento for reduzida, tanto melhor.


O senhor pode dar exemplos bem-sucedidos de terapia assistida por animais?

Existe agora um número de livros no mercado que oferecem muitos exemplos. Lembro-me do caso de um senhor afásico em um asilo. Ele não havia pronunciado uma palavra por anos até que o lugar adotou a AAT. Primeiro ele falou com os animais - com um gato, em especial - depois com os enfermeiros e finalmente com os outros idosos. Também me recordo da primeira vez em que dei consultoria para um asilo. Selecionei dois gatinhos para morar com os idosos. Sempre via os gatos na cama de uma senhora que estava no estágio final de câncer. Passados alguns meses da sua morte, recebi uma carta da filha me agradecendo por "ter feito valer a pena os últimos meses de vida da mãe, tornando-os mais suportáveis".

 
Como os médicos vêem a AAT?

Médicos que atuam em consultório particulares são mais receptivos ao uso de animais como co-terapeutas do que os hospitais e as clínicas. Eles sabem da importância dos animais por intermédio de conversas com seus pacientes. A administração de hospitais e clínicas resiste a tais programas argumentando questões de higiene e barulho. Uma vez informadas de que os animais estão sob supervisão de um veterinário e são bem treinados, instituições permitem a entrada de AAA/AAT para um período de experiência. A partir daí, eles testemunham os efeitos da companhia dos animais não apenas em seus pacientes mas na equipe e acabam aprovando a continuação do programa. Infelizmente não há estatísticas disponíveis sobre o número de clínicas, hospitais, asilos que dispõe de AAA e AAT. Mas sabemos que de 20 a 30% dos psiquiatras e psicoterapeutas envolvem animais nas suas práticas.


O primeiro curso de pós-graduação vai ser ministrado em uma universidade no Japão. A terapia assistida por animais já é considerada um novo ramo da ciência?

O interesse pelos efeitos benéficos do animal de companhia começou na década de 60, nos Estados Unidos, depois que Boris Levinson e Sam e Elisabeth Corson publicaram observações iniciais em pacientes de um hospital psiquiátrico que recebia visitas de cachorros. A pesquisa na área também começou nos Estados Unidos, mas se espalhou rapidamente no Reino Unido e na Europa continental nos anos 80. Delta Society, nos Estados Unidos, e Sociedade para Estudos de Animais de Companhia (SCAS), na Inglaterra, foram as principais organizações. Delta é reconhecida pelo programa Pet Partners, que treina voluntários, donos de cachorros, para programas de visita a instituições e agora se dedica também a treinar os "animais de serviço". Na Europa, minha instituição, IEAP, foi a primeira a oferecer programas de educação contínua para profissionais (AAT) e voluntários (AAA). AAT vai ser ofertado como curso de pós-graduação a partir de abril na Universidade de Azabu, perto de Tóquio. Universidades nos Estados Unidos começam a oferecer cursos específicos para terapeutas ocupacionais, por exemplo. Publicações das comunidades científicas e médicas trazem estudos sobre o tema. A mais importante revista da área é Anthrozoös. Conselhos de pesquisa e institutos de saúde de vários países começam a financiar pesquisas sobre o tema. O campo está estabelecido, mas há muito para que se fazer e descobrir neste século.


De acordo com o Banco Mundial, 38,4% dos brasileiros são pobres. Com tanto investimento para fazer na área social, não parece luxo para o governo se preocupar com a questão animal?

IAHAIO nunca sugeriu que o governo deveria investir dinheiro em AAT; no máximo, que deveria apoiar pesquisas na área, mas especialmente que deveria abrir portas de várias instituições públicas e privadas para AAT e AAA alterando a regulamentação para permitir a entrada dos programas se estes forem operados profissionalmente. Implementar programas de AAT e AAA envolve custos para treinar pessoas e selecionar e treinar animais. Muitos programas são coordenados por fundações, portanto isentos de impostos, com doações da indústria privada e com indivíduos para treinar voluntários e seus animais de estimação, especialmente cachorros. Mas é impossível colocar uma etiqueta com preço em um programa sem saber quais os objetivos principais e o modus operandi.


Qual a população de cães e gatos errantes no mundo? Que perigo eles representam para a sociedade?

Desconheço o número total, mas é alto especialmente nos países desenvolvidos No Brasil, há um cachorro para cada sete humanos e 10% deste total é de animais abandonados. Não há estimativas para gatos. Animais abandonados representam um grande problema para governo e sociedade pois podem ser portadores de doenças, barulhentos e fonte de poluição. E o bem-estar destes animais também é comprometido. Por isso organizações de bem-estar animal como Sociedade Internacional para Proteção Animal (WSPA), em Londres, Sociedade Internacional Humanitária (HSI), em Washington, e Arca Brasil, entidade membro da IAHAIO, em São Paulo, se dedicam a resolver estes problemas promovendo a posse responsável, informado o público sobre a importância dos animais para nossa saúde e qualidade de vida e ensinado às crianças sobre comportamento e cuidados apropriados dos animais. A Organização Mundial da Saúde (OMS), WSPA, Arca e IAHAIO vão promover o programa de treinamento "Zoonoses e Interações Homem-Animal" em São Paulo depois da conferência no Rio, o que indica que estamos todos empenhados em resolver o problema e cães e gatos abandonados.


Qual o papel dos animais em nossa vida? Podemos dizer que eles são a cura do século 21?

Cresci com cachorros e, por conta das minhas inúmeras viagens pelo mundo, tenho apenas dois gatos que são um grande conforto para mim quando estou em casa - são como uma família. O animal de companhia não é "a" cura para todos os problemas, mas eles certamente terão um papel cada vez mais significativo em nossas vidas.


Esta coluna é atualizada todas às segundas-feiras