O CÃO

O cão da caravana acoita sarnas
pelos pêlos tragados de suor
que encarnam carnaduras já de cor
na salteada costa descarnada.

O cão da caravana esconde as armas
o fogo e a cinza dessa cauda cor-
rente ao dorso de estrelas apagadas
se acendem cimitarras para a dor.

Ao relho e aos ossos pó entre mil noites
dita a desdita escrita: Maktub!
E o cão se assenta dócil para o açoite.

Mas lhe aguarda a tarefa de quem ladra
e exorciza a baraka dos impuros
enquanto a vida caravana passa.

Ao chegar da rua
os olhos do cão me dizem —
entre com ternura.

Nos olhos do cão
eu recomponho essa calma
que só ele conhece.

                                              Aníbal Beça

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