Peta

Teria eu feito “o que” de errado?
Um quê de tudo certo acabava sendo errado
Enganar-te com um sanduíche de “pílula” para dor
que mordias abocanhando rápido
Às vezes sacudindo para jogar fora o comprimido
Era certo?
Certamente teus olhos atentos observavam sorrindo meus preparativos
Abrindo a carne com a faca fazendo um esconderijo
Aguardavas o petisco
Confiando que eu fazia
O melhor para ti...

Carne... Ora! Disso até que gostavas.
Trazia-te frango lavado do tempero disfarçando com ração e arroz
A idéia era que devagar, passo a passo, irias te acostumar com a ração vitaminada,
rica em proteínas...
idéia da veterinária e do fabricante
Certo ou errado?
Mas... catavas o frango deixando todo o resto na vasilha
Depois ias embora sorrindo

E pensas que eu não sabia que subias as escondidas na minha cama
para fazer a sesta quando eu saia?
Eu via pêlos teus caídos nos lençóis...

Quantos dias “curtimos” nossa dupla... solidão
tenho medo de contar... parece que ficam menores
e eu nem era tua “dona” antes
de verdade... que tu é que eras minha “dona”
ou não éramos donos de nada. Uma amizade rápida e fulminante!
Era que ficamos...

E os passeios que fizemos...
Nossa! Os passeios que fizemos foram todos para a clínica
Eu pensava comprar-te um daqueles laçarotes das cadelinhas de madame
E nem deu tempo!
Penso que irias arrancá-los sacudindo. Que não eras dessas coisas!
Teu sangue foi ficando ralinho e tuas forças foram sumindo...

Penso que, os cães não possuem alma, mas, assim mesmo, rezei para que os espíritos bons te curassem te salvassem a vida para mim. Para nós... mais... Para mim que nunca tive assim alguém... amiga tão doce.

Mas não me atenderam.
Talvez estivessem ocupados salvando gente...
Seria errado rezar para Deus curar uma cachorrinha?
Nunca vou saber... Ela morreu.

Pensei que a veterinária era burra... Não te socorreu como devia...
Também quem sabe eu nem merecia te ter todo dia assim... Tão minha!

Não sabia o que fazer para conservar-te presente.
Como uma flor daquelas que se tira das plantas
murchaste rapidamente
Sempre detestei tirar as flores dos galhos...

Corajosamente levantaste a cabeça para olhar a rua
no último passeio que fizemos...
Ias tomar um soro, eu te levava como um neném ao colo.

Eras o meu bebê... E que leve... Estavas tão linda!
Teu pêlo impecável... E cheirosa - que não te sujavas nos últimos dias...

Dormimos juntas na tua última noite na terra
(força de expressão)
na verdade ficaste embaixo de minha rede,
minha mão te acariciando.
Pequena! Pequenina!

As coisas de que gosto parece que me escapam.
E se tem um céu pra nós (gente?) e bichos!
Pra ficar depois de mortos. Será que irão deixar-nos no mesmo céu?

Até dá pra encarar outro “não céu”
só para encontrar teu rostinho (carinha redonda olhando de lado)

Por que é que demoraram a te trazer pra mim?
Ficaste “minha dona” tão poucos dias.
Tenho pena de mim todo dia sem ti... e choro.

E mesmo agora ando na ponta do pé pelo quarto às escuras com medo de pisar-te
E não tem ninguém
Nenhum par de olhinhos observando enquanto digito ou enquanto jogo paciência.

Nazilda Corrêa
(março /2003)


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