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T O meu cão     Fausto Guedes Teixeira (Lamego, 1871 - 1940) Há muito que morreu o pobre amigo! Companheiro leal, vi-lhe o seu fim. E, nest'hora, em que choro a sós comigo, Parece que ainda o sinto atrás de mim. Os mesmos passos leves, quase humanos, Os mesmos olhos procurando o céu, Como os olhos daquela que alguns anos Antes de eu o perder, também morreu. Que morreu, como tudo o que até agora Trouxe à minha existência dolorida A ventura, que passa numa hora, E a dor, que fica para toda a vida. Nossa amizade cada vez maior, Com menos emoção do que era a sua, Fazia eu versos, que ainda sei de cor, Meus versos, ele uivava-mos à lua. Mas éramos felizes como o são Aqueles p'ra quem é suficiente Um pobre e pequenino coração Capaz d'amar e dar-se a toda a gente. Estou a vê-lo, quando entrava aquela Que era a beleza, a graça, tudo enfim, Dum salto erguer-se e ir a correr p'ra ela, P'ra lhe beijar as mãos antes de mim. Que de saudades a minha alma evoca De tantos anos de ilusória fé!... Mas as palavras gelam-me na boca E o que os meus olhos choram, não se vê! Encheu de afectos todo o meu passado! E quantas vezes, p'ra mim próprio, eu digo Que, se o melhor no amor é ser amado, O melhor na amizade é ser amigo! Do livro "Tesouros da Poesia Portuguesa", Editorial Verbo, Lisboa/São Paulo, 1984

O meu cão   

Há muito que morreu o pobre amigo!
Companheiro leal, vi-lhe o seu fim.
E, nest'hora, em que choro a sós comigo,
Parece que ainda o sinto atrás de mim.

Os mesmos passos leves, quase humanos,
Os mesmos olhos procurando o céu,
Como os olhos daquela que alguns anos
Antes de eu o perder, também morreu.

Que morreu, como tudo o que até agora
Trouxe à minha existência dolorida
A ventura, que passa numa hora,
E a dor, que fica para toda a vida.

Nossa amizade cada vez maior,
Com menos emoção do que era a sua,
Fazia eu versos, que ainda sei de cor,
Meus versos, ele uivava-mos à lua.

Mas éramos felizes como o são
Aqueles p'ra quem é suficiente
Um pobre e pequenino coração
Capaz d'amar e dar-se a toda a gente.

Estou a vê-lo, quando entrava aquela
Que era a beleza, a graça, tudo enfim,
Dum salto erguer-se e ir a correr p'ra ela,
P'ra lhe beijar as mãos antes de mim.

Que de saudades a minha alma evoca
De tantos anos de ilusória fé!...
Mas as palavras gelam-me na boca
E o que os meus olhos choram, não se vê!

Encheu de afectos todo o meu passado!
E quantas vezes, p'ra mim próprio, eu digo
Que, se o melhor no amor é ser amado,
O melhor na amizade é ser amigo!

Fausto Guedes Teixeira
      (Lamego, 1871 - 1940)

Do livro "Tesouros da Poesia Portuguesa", Editorial Verbo, 1984, Lisboa/São Paulo
Enviado por: Leninha


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