O MELHOR AMIGO DOS PIORES INIMIGOS

  Era um dia chuvoso. O ponto de ônibus, que eu sempre ia, estava cheio de pessoas. Quase que eu fiquei do lado de fora da cobertura. Nunca reparava em cachorros, porém um, em especial, chamou-me a atenção. Querendo proteção, também, resolveu ir debaixo da cobertura, junto com as pessoas. Seria melhor que ficasse na chuva. Quando achou um cantinho para ficar, chegou uma pessoa e deu um chute nele. O cão ganiu e as pessoas se assustaram. Deram bronca no cachorro e ele, assustado, saiu correndo para longe.
Fiquei ali, com pena do animal. Estava bem magrinho, cheio de feridas no corpo. Pensei comigo mesmo: “se esse cachorro tivesse dono, seria bem bonito”. Queria pegá-lo para criar, mas não tinha condições.
Como todo dia eu pegava ônibus naquele ponto e, freqüentemente, encontrava o cão lá, decidi levar, então, algumas bolachas velhas para ele comer. Sempre que podia, dava-lhe alguma coisa para se alimentar. Mas não era suficiente. Um dia, numa lanchonete da região, eu estava almoçando, quando o cachorro chegou e ficou parado na estrada, esperando que alguém lhe desse alguma coisa. Numa das mesas perto da entrada, estavam três homens. Comiam salgados e tomavam cerveja. Fiquei observando se iam dar um pedaço para o cão.
Enganei-me. Em vez disso, um deles pegou um guardanapo, encheu de ketchup e jogou para o bicho. Esse, faminto, sem titubear, engoliu o papel, vorazmente.
O sujeito que jogou, fez a seguinte observação:
— Que cachorro burro!
E os outros dois deram risada Iam fazer a mesma coisa. Decidi, então, pegar um pedaço de carne e levar para o cachorro, num lugar bem longe, para não voltar à lanchonete. Pensei comigo mesmo: “como têm pessoas que judiam dos animais”. Mas o pior ainda estava por vir.
Como de costume, eu estava no ponto de ônibus com as bolachinhas. Contudo, o cão demorava em vir. Já quase no horário de ônibus, vi o cachorro correndo, ofegante, e atrás cinco adolescentes perseguindo-o e jogando pedras. Uma delas certou sua pata e ele foi para o meio da rua, sem reparar num carro vindo. Foi o fim de sua miserável vida. Para mim, o tempo parou. Perdi o ônibus, só conseguia ouvir as risadas dos adolescentes e ver as imagens do ocorrido.
Hoje ainda penso no fato. Cheguei à conclusão de que, com tais atitudes de certas pessoas, o ser humano ainda tem muito que evoluir. Muitos ainda não entendem que, como nós, os animais também sentem dor, fome, tristeza e solidão. Se estão na rua “perturbando”, os culpados somos nós mesmos.

Jonathan Peña Castro

Leilamenu