BIAL, VOCÊ ESTÁ CERTO DISSO ?

                                      por Isabel Machado*

                O Fantástico foi o programa mais afetado diretamente por essa febre nos contornos da audiência. Há 30 anos imbatível, sofreu um duro golpe com os números dos institutos de pesquisa (IBOPE, domingo, 16/12, média 46 SBT, 18 Globo) e com a repercussão em toda a mídia.

                Só o fato de ser o apresentador oficial do Fantástico já descredencia Bial em emitir opinião. Ele faz parte do contexto, está inserido na “briga” e inevitavelmente nenhum comentário seu será imparcial. Pelo contrário. Mesmo porque pode até não parecer, mas jornalista também é humano.

                Nessa história de audiência é preciso enxergar tudo o que está por baixo do pano. Porque nada acontece por acaso.

                O fato é que, primeiramente, falta na Globo um líder como Silvio Santos. Ele é o dono, comunicador, carismático como jamais existiu na tv brasileira, com um poder imbatível nas palavras e expressões. Só pra citar a final do Casa dos Artistas, ele comandou mais de 4 horas ao vivo, do começo ao fim com a mesma vivacidade. Conversando com o telespectador, deixando-o mandar abraços e beijos para a família toda, recebendo elogios visivelmente embaraçado, cumprimentando a mãe, a sogra, o cachorro e o papagaio. Íntimo sem pieguice. Empatia pura. Sinceridade não-teatral que não se encontra em faustões, bials e glórias marias. Só por ele já valia assistir a Casa. Só por ele já valia o show.

                Outro fato a pensar: o povo está cheio de falsos brilhantes. É bonitinho, bem lapidado, perfeito, mas..... falso! O padrão global de qualidade deixa tudo com uma roupagem  distante que soa falsidade. O povo não é bobo. Entende esse tom e repudia. Não quer apenas o bonitinho, mas ordinário.

                Silvio Santos está pertinho do público e este público sabe disso, sente isso. E quem não sentir que esta é a nova realidade da tv brasileira, vai dançar. Tenha a qualidade que tiver. Porque quando a busca pela qualidade perde a espontaneidade, entra em ação o controle remoto.

                Não adiantam cenários requintados, figurinos deslumbrantes, elenco de primeira, se falta vida. A vida como ela é.

                O telespectador de hoje está cansado das notícias de uma guerra sem fim lá nos confins do Afeganistão que a maioria ainda não sabe onde fica. O telespectador não agüenta mais o Fausto Silva e sua má educação com a equipe, platéia e até com determinados artistas. Seu deboche, sua insatisfação, seu cansaço, estão estampados na testa em letras garrafais. Só a Globo não vê. E insiste numa fórmula que já deu o que tinha que dar, ultrapassou todos os limites. Por quê ? Medo de inovar?

                O “show da vida” mostra só as tragédias da vida. E o telespectador ouve a musiquinha de abertura e já sente toda a tristeza de um fim de semana indo embora e mais uma semana dura começando. Cansado de ver desgraças, cansado da chatice de sua vida e de seus problemas, ele optou pela casa que relaxa, diverte, distrai... A “Casa” fez esquecer o mundo lá fora, as contas atrasadas, o 13º. que está sendo usado para pagar dívidas, o presente que não virá, o emprego que também não.

                Silvio Santos foi feliz ? Teve sorte ? Não, apenas. Foi um perfeito estrategista. Teve a sensibilidade de compreender (e antecipar) os desejos mais íntimos da população carente. E da abastada também.

                A Vênus platinada precisa entender que existe vida fora de seus limites. Pedro Bial precisa entender que o mundo gira e não é apenas global. E que um dia a casa pode cair e ter-se que mudar de território. Talvez para o SBT. Aquele do Silvio Santos que ele afirma ser  “traidor da classe e da pátria" e "aventureiro sem escrúpulos”.

                Pedro Bial, você está certo disso ?