APENAS UMA CIDADEZINHA QUE CRESCEU DEMAIS!
Segunda feira, 25 de janeiro de 1.993, São
Paulo, 17:55 h:
Ana Luiza desce no terminal rodoviário
do Tietê. Olha em volta e por instantes se sente compelida a entrar
novamente no ônibus e tentar ali, se proteger. E pensa:
Meu Deus, isso é muito grande, quanta
gente! Jamais me acostumarei aqui.
Embarca em uma escada rolante, indicada pelo
motorista, e procura pensar em todos os detalhes que ele lhe explicou.
Assim não terá que pedir informação para mais
ninguém. Afinal dizem que em São Paulo ninguém explica
nada direito.
Chegando ao topo da escada já se sente
levada pela multidão. Ela vira em círculos e, quando consegue
se recostar a uma parede percebe-se totalmente desorientada. E agora?
Começa a andar sem olhar diretamente
para as pessoas. E se alguém perceber que ela está perdida?
Lá em sua cidadezinha, no interior de São Paulo, dizem que
a rodoviária está cheia de bandidos, esperando apenas uma
caipirinha chegar para dar o bote.
Ela sente seu coraç ão disparar
a cada passo, sente tremores de medo e, não agüentando mais,
se curva toda num canto de parede e, abraçada a sua mala: começa
a chorar.
Uma senhora de aproximadamente uns cinqüenta
anos a ampara, a faz levantar-se e a encaminha até uma cadeira no
saguão de embarque.
Gentilmente ela oferece ajuda:
Deixe-me ver este endereço em sua
mão? Não é muito longe, terá que usar o metrô.
Venha que te colocarei no trem e quando ouvir o nome da estação
"Sé", é só você desembarcar, lá
dentro procure um guarda do metrô que ele a orientará como
chegar até seu destino.
Mas, senhora, tem certeza que me ensinarão
corretamente?
Claro minha filha, não tenha medo.
São Paulo não é um bicho de sete cabeças, o
povo daqui é muito bom, é apenas uma cidadezinha que cresceu
demais. E você está chegando num péssimo dia, feriado
prolongado todos estão chegando agora, por isso tanta gente neste
terminal.
E a senhora a acompanhou até a bilheteria
do metrô, depois até a catraca que a levaria ao seu destino.
Embarcou ainda um pouco assustada e fechou
os olhos quando sentiu a velocidade do trenzinho. Pensou:
Minha Nossa Senhora Aparecida! O que eu
vim fazer aqui!
Chegando à estação Sé
orientada por um guarda conseguiu chegar ao local combinado com sua
tia. Deu um grande suspiro quando a viu. De braços abertos,
representando tudo de bom que São Paulo ainda iria lhe dar: ela
a recebeu.
Ana Luiza foi aprendendo no dia a dia a conhecer
aquela grande cidade, decorou todas as estações do metrô,
as grandes ruas, as grandes lojas, os museus, o Jardim Zoológico,
o Jardim Botânico, o Planetário, os grandes parques, enfim,
tudo o que a cidade devolvia de presente pelo trabalho esforçado
de uma simples empregada doméstica.
Ela casou-se e hoje trabalha apenas para sua
humilde casa, marido e dois filhos.
E se alguém perguntar o que ela pode
dizer sobre esta cidade, ela diz!
É apenas uma cidadezinha que cresceu
demais!
Eu amo São Paulo!
Vera Vilela