ONDE ESTÁ MEU FILHO?

Como mãe desesperada, vi quando os estranhos chegaram, em bando, todos bem armados e falantes. Suas roupas reluziam medalhas e botões dourados. O menino não resistiu a tanta beleza. Se deixou seduzir pela conversa bonita, pela roupa diferente e pelos presentes que ganhou. Se entregou aos bandidos como uma criança aceita a ajuda de um adulto - prevendo segurança.

Eles o presentearam com bugigangas, eu adverti, soltei raios e trovões, fiz chover, vi nele a doença nascer, vinda deles, mas nada, nada fazia meu filho enxergar o perigo. Nesta época ele podia contar com tantos irmãos, eram tantos que nem era possível contar. E todos fortes, bravos, valentes. Teria vencido a guerra.

Adorou novos deuses, rezou novas rezas, perdeu sua essência inocente.

Ganhou a fala bonita e os presentes inúteis dos estranhos. E eles levaram um a um cada filho meu. Vi a terra, as matas, os rios, as pedras, meu corpo todinho foi invadido.

Dou agora meu grito final!

Onde está meu filho? Porque aceitou esses brancos? Morreu você e agora morro eu!

Logo, morrerá todo o planeta que agora deixo.
 

assinado: Mãe Natureza

(aos índios)

Vera Vilela