Alma de mulher

            Ofuscada pelo brilho da criatura. Irreal!
            
Trancafiado o meu sonho. Fecho a porta pregando pelo lado de fora. Além das trancas mais alguns cadeados como garantia.
            Fico vigiando sentada olhando... A expectativa... algum som, o menor ruído... A sementinha da esperança. Não colocara adubo, terra boa ou qualquer gotinha d'água. Porém sinto seu olhar se recusando a morrer.
            Fecho então a última janela calafetando as frestas com silicone (dizem que isola os sons e a água não passa).
            Mas, adivinho o verde por trás de todo esse aparato. Como é difícil selar a morte!
            Incineração (penso). Luminosa idéia. Pego nas gavetas papéis antigos Quanta tralha! Cartões, fotografias. Que está fazendo aqui essa flor murcha? Bom, vai também. Um pouco de querosene e em alguns minutos as cinzas voam.
            Lavo as mãos e sento para descansar. Mas, vejo pelo lado de dentro. Imagens. Como apagar imagens? Substituição. Vamos lá!
            Filmes, discos, livros, e até telenovelas. Tento acompanhar personagens, atores cantores. Porque será que as histórias são tão parecidas? Parece existir um único cenário e enredo. Tudo igual!
            Enredada não percebo diferenças.
            Compras: Passeio pelas lojas. Roupas, sapatos, perfumes, livros, discos... Olha esse disco em liquidação!
            Com o disco nas mãos de volta ao começo. Vejo o sonho.
            Escuto a música de alma partida caindo estrelada sem passado, futuro ou presente. Então queimo sob esse brilho nas mãos.

Nazilda Corrêa