PRESTIDIGITADOR
Insinuas algum amor
fazendo promessas inconseqüentes
que ouço e finjo acreditar
com olhar sonhador
e sorriso inocente,
alimentando sem pudor
essa hipnótica convivência
de encantador e serpente.
TRAVELLING
Jejum de coca
maratona de yoga
serenata de Mantra
noite adentro, mundo afora
nas profundezas da Atlântida
sobre as cinzas de Tróia,
criatura sua
eu procurei o criador.
Será que ousei pouca aventura?
Empnhei armaduras
saqueei as sagradas escrituras
entrei em cruzadas homéricas
esotéricas, telúricas,
bebi do Daime, Graal,
Mahabhrata, Alcorão
etc. e tal.
Mas fui condenado
à lei do eterno retorno.
Eis-me aqui de novo
com a mesma questão:
de onde vim,para onde vôo?
Guiai-me Platão.
No fim do túnel há uma luz rude
que ofusca os sentidos da gente.
Tanta perseguição
dava até um road-movie
(com direito a happy-end?)
Help Thelma & Louise,
please,
não me larguem nesta crise.
Tem poeta fingidor,
fingindo tão completamente,
que chega a fingir-se autor
do verso que a outro pertence.
PARA NORMAN BATES
Mãe é uma só,
evidente.
A prova é que não existe
matricida reincidente.
Você me deixou com trauma,
e um filme pro Brian de Palma.
Bato na cama,
rolam em flash-back,
cenas daquela transa
em que estávamos de pileque.
Ou risco isto da lembrança,
ou me arrisco a uma vingança.
Esboço um plano sequência
noir:
eu vestida para matar,
dedo no gatilho,
fecho os olhos e disparo.
Mas antes de ouvir o tiro
me dá um estalo.
Entrego, então, meu único
vintém
para alguém
fazer outro final
(de repente, um musical...):
você voltando pra mim
sorrindo beijos. FADE IN.