POETAS MORTOS

No limiar de mundos ignorados,
Onde aportaram suas naves quietas,
Relembro a alma sonora dos poetas,
A alma sensível dos predestinados.

Onde estarão essas aves inquietas?
Que perfeição de céus jamais sonhados
Atrai seu vôo, inspira seus trinados,
Que arte sutil cativa esses estetas?

Na senda solitária, com certeza,
Passaram pelo mundo os trovadores
Num êxtase de sonho ante a beleza.

Chego a pensar, às vezes, comovida,
Que a alma de lu\ e som dos sonhadores
Jamais deixou a terra, o sol e a vida.

                                                                 Helena Kolody

Do livro: "Música Submersa" (1945), in Viagem no Espelho, Editora da UFPR, PR, 5ª ed., 1999