O POETA MODESTO

Este é o meu legado:
poeira, vento e espuma.
Tudo é sempre nada
e coisa nenhuma.


O POETA INVEJOSO

"Eu sou muito eu",
diz o joão-ninguém
num ar lamentoso.
E, cheio de inveja,
o poeta o escuta:
O poeta que sempre
muda de pele
como as serpentes.

Lêdo Ivo

Do livro: "Poesia Completa - 1940 - 2004", Topbooks, RJ, 2004