O azeite é o oiro que a árvore da paz gera em lágrimas de sofrimento
(Maria Petronilho)
“Verde foi meu nascimento
Mas de luto me vesti
Para dar a luz ao mundo
Mil tormentos padeci”
(tradição popular portuguesa)
ARROZ DE COGUMELOSDeita-se um fio de ouro
Que cubra o fundo do tacho.
Nela se frege a cebola
O louro, um dente de alho.Deitam-se os fungos cortados.
Enquanto eles lentamente
Nos dão de si todo o gosto
Ponho água e tempero a gosto
E, quando ferve, acrescento
O arroz, em pé-de-vento,
Com a branda colher de lenhoSob a tampa, a cozedura
Exala um tal aroma
Que até a alma perfuma!
Caldo Verde
Meia dúzia de batatas médias
Uma dúzia de folhas de couve galega
Água, sal e azeite
Desliza-se a faca em volta
De cada batata redonda
Despindo-lhe a cor da terra.E botam-se na panela,
Aonde a água borbulha.Enquanto cozem, a couve
Miga-se muito fininha,
De um molho que se ajeita
Entre os dedos e a palma,
Com atávica experiência.Desfazem-se as batatas.
No caldo a couve se deita
E se ferve-se por instantes
Sem a cobrir com a tampaO sal e o fio de azeite
Com que enfim se tempera
Exalam do caldo pronto
Uma gostosa fragrância.Maria Petronilho (Portugal)