NA MÃO DE DEUS

      Na mão de Deus, na sua mão direita,
      Descansou afinal meu coração.
      Do palácio encantado da Ilusão
      Desci a passo e passo a escada estreita.

      Como as flores mortais, com que se enfeita
      A ignorância infantil, despojo vão,
      Depus do Ideal e da Paixão
      A forma transitória e imperfeita.

      Como criança, em lôbrega jornada,
      Que a mãe leva ao colo agasalhada
      E atravessa, sorrindo vagamente,

      Selvas, mares, areias do deserto...
      Dorme o teu sono, coração liberto,
      Dorme na mão de Deus eternamente!

                                                              Antero de Quental