O GNOMO

      Olhos grandes e assustados,
      chapéu de feltro encarnado,
      ele caiu no capim.
      Esse serzinho encantado,
      pequenino e engraçado,
      morava no meu jardim.

      Era noite. O firmamento
      continha tantas estrelas
      como eu nunca vira assim.
      Compreendi, com clareza,
      que a boa mãe natureza
      jogara o serzinho pra mim.

      Agradeci, satisfeita,
      pela dádiva perfeita.
      E protegendo o serzinho
      de todo e qualquer perigo,
      dei-lhe ternura e carinho.
      Calor, comida e abrigo.

      A natureza dormia.
      Apenas um rouxinol
      trinava no meu jardim.
      E o serzinho silencioso
      delirava, em pleno gozo,
      no seu leito de cetim.

      Docemente e com cuidado,
      dedilhei doces modinhas
      de dormir e de sonhar.
      Adormeci ao seu lado.
      E o brilho de um novo dia
      acabou por me acordar.
       
      Olhei pro cestinho de palha.
      Se a memória não me falha,
      desatinei a chorar.
      Procurei canto por canto,
      mas, para o meu desencanto,
      o serzinho não estava lá.

      O sol lá fora brilhava
      e derramava os seus raios
      na ramagem de alecrim.
      Tão bela era a fantasia,
      que a natureza fluía
      seus segredos sobre mim.

      Não sei se sonho ou miragem.
      No êxtase da viagem
      o serzinho apareceu
      e sussurrou: “Vem comigo,
      a mata é o único abrigo.
      O seu gnomo sou eu”.

                                                      Kátia Drummond