ESCORPIÃO
Plutão prepara conjunções difíceis
para o começo do verão, e podem durar.
Podem até cogumelos crescer
no chão da tua esperança.
Não avances tanto,
cautela com as alamedas lunadas,
desvia-te a tempo da labareda do implacável.
Não consigo ver bem o que te arderá nos olhos,
quando termine o verão.
Às vezes me parece uma lágrima,
de repente me parece uma estrela.
Modera-te à mesa,
o o colesterol te espreita
do fundo tão jovem do teu fígado.
Não sejas tão avaro de ti mesmo:
se não te dás inteiro ao que tu amas,
vais acabar ficando sem nada.
E aprende com o poeta, mulher de Escorpião,
que nunca é tarde nem cedo
para amar.
Deves, contudo, manter-te atenta
aos recados que chegam
no vento do amanhecer.
O dia que jamais esquecerás:
a última terça-feira da primavera.
Thiago de Mello
Do livro: Horóscopo para os que estão vivos, edição de luxo ilustrada e editada por Ciro Fernandes, 1982, RJ