Quando
descobri acidentalmente esta página e dei uma espiada na seção
que trata de nomes de gatos, não resisti a arriscar-me a contar
algumas historinhas que conheço sobre o assunto. Não sou
bom escritor; mas as ditas historinhas são, apesar de verídicas,
tão singelas e curtinhas que não hão de chegar a incomodar
nem roubar muito do tempo de ninguém (e destino esta explicação
também à amiga que me empresta o computador e a caixa postal
de e-mail).
Para justificar o tempo que
passarei sentado diante de sua máquina, começarei por sua
gatinha: Meerlinda, assim batizada porque ela queria "um nome de feiticeira"
e Meerlinda é a forma feminina de Merlin. Além disso - explica-me
minha amiga (que todos chamam de Kitty, também um nome de gata)
- a palavra rima com "linda". É assim que ela se refere à
sua gatinha: Meerlinda, A Linda. Neste momento, enquanto escrevo, ela (a
gatinha) se senta aristocraticamente diante da janela, contemplando o pátio
do prédio. Tenho que admitir que é mesmo bonita, embora,
por orgulho paterno, não possa dizer que é a felina mais
bonita que conheço. Há outra...
Esta, aliás, é
a segunda história. Há pouco mais de um ano, numa noite fria,
ouvi um fraco miado no meu quintal. Apesar de fraquinho, o som era persistente,
e perturbou-me o sono pela noite afora. Quando amanheceu, levantei-me e
fui procurar a fonte do barulho. Encontrei um pequeno filhote, aparentemente
abandonado, que viera procurar abrigo junto à porta do quintal.
Era como um presente, pois minha irmãzinha, Carla, de oito anos,
havia perdido seu gato meses antes, e estava ainda muito triste. Assim,
pus imediatamente a "senhorita" para dentro, colocando-a diante de um pires
de leite morno, que foi prontamente aceito.
Kitty - que adora dar nomes
a bichos - sugeriu que a batizasse de Nefer, que em língua egípcia
significa "bela"; mas logo depois emendou-se e disse que mais apropriado
seria Nefertiti, cujo significado é "A Bela Que Chegou". Naquele
momento, devo confessar, Nefertiti não estava exatamente bela, depois
de ter vivido ao relento e tudo o mais; mas com o tempo, a profecia do
nome tornou-se realidade e hoje é a bichana mais bonita das redondezas
- apesar de um pouquinho gordinha...
Meses depois, minha irmã,
cuja tristeza pela morte de seu gato era conhecida, foi presenteada com
um macho de oito meses, cinzento, enorme, cheio de disposição
para brincar e exigente no receber carinho. Foi Carla mesma, diante da
dificuldade que encontramos em batizar o bichano, quem sugeriu que ligássemos
para Kitty, nossa - como disse ela - "batizadora oficial"... E Kitty não
deixou por menos: já que tínhamos Nefertiti, era melhor dar
a seu companheiro um nome à altura. Era forte, valente, enorme,
namorador, como dizíamos? Então, que se chamasse Ramsés
- nome de um faraó egípcio que vencia todas as batalhas e
tinha um harém de cinqüenta concubinas e mais de cem filhos
(epa; CEM FILHOS? Lamento, Vossa Majestade, mas acho que teremos de providenciar
uma operaçãozinha...).
Nomes egípcios para gatos
devem ser moda por aqui. A última historinha refere-se também
a um nome egípcio - só que italiano...
Explica-se: um conhecido nosso,
senhor já idoso, adora ópera e é, sobretudo, fã
inverterado de Giuseppe Verdi. Ora, na ópera Aída (que conta
a trágica história de amor entre Aída, princesa núbia
- portanto, negra; este é um detalhe que deve ser lembrado - que
vive como escrava da filha do faraó e Radamés, comandante-em-chefe
do exército egípcio) existe uma ária em que o galã,
apaixonado canta: "Ó, celestial (em italiano 'celeste') Aída,
divina, quero erguer-te um trono junto ao sol...". Quando este senhor adotou
uma gata, ao contrário de nós, não teve dúvidas
quanto ao nome que lhe daria. Olhou para ela, preta como carvão,
com dois enormes olhos cor-de-âmbar e disse sem hesitar: Celeste
Aída. E Celeste Aída ficou.
Esses donos de gatos têm
cada uma...
Nicolas Brunelli