Visito a Gatolândia sempre que posso e estou lhe escrevendo para parabenizar pela bela página e lhe contar a história de como uma gatinha, chuva e filhotes podem mudar a vida de algumas pessoas. (Ah! E também para falar de alguns nomes.)
    Trabalho no Palácio Itamaraty, no centro do Rio de Janeiro e infelizmente, é comum que as pessoas abandonem gatos  na parte de trás do palácio, onde fica o estacionamento.
    Uma tarde estávamos  trabalhando no escritório, que fica no térreo, e chovia muito quando um amigo, Marcos,  escutou uns miados que mais pareciam gemidos. Saímos e vimos uma gatinha cinza e creme, bem próximo a nosso porta, lambendo uma cria que acabara de nascer. Como uma gata "vira lata" nunca tem só uma cria apuramos o ouvido para descobrir aonde estava o resto. Descobrimos que estavam no meio do mato perto do tronco de uma árvore completamente molhados. Eram 06 no total. Isto aconteceu  mais ou menos as 5 da tarde do dia 15 de dezembro de 98. Arrumamos uma caixa de papelão e acomodamos a família, do lado de fora do escritório, numa área coberta, colocamos comida e água para a mãe (tudo improvisado, pois não tínhamos nada de especial para gatos) e fomos embora. Como todo legítimo gato de rua a  malandrinha da mãe era muito esperta e no dia seguinte pegou um gatinho de cada vez, pulou a janela e colocou dentro do escritório. Não resistimos, eu e Marcos resolvemos deixá-los no  banheiro e cuidar deles. Chamei uma amiga que é veterinária e descobrimos que todos estavam com pneumonia e  um com infecção nos olhos. Eram 5 machos e uma fêmea.
    Durante a semana ficavam no escritório e nos finais de semana eu trazia toda a "trupe" para casa. Cuidei de todos e quando já estavam saudáveis e vacinados comecei a buscar novos lares para eles:
    1 -  Nani, a mãe,  que deve ter uns 2 anos, ficou  no nosso escritório, foi devidamente vacinada e operada. É o nosso xodó, passa o dia ronronando e recebendo carinhos. No mais  come  e dorme muito bem (não necessariamente nesta mesma ordem).
    2 - Um amigo, Viola, ficou com o Chiquinho, que foi rebatizado por ele (batizado com direito a festa e tudo mais) e agora se chama "CALÍGULA" (O Imperador).
    3 - Uma amiga, Dayse, que cria fêmeas de British e Persas, se apaixonou pelo nosso Miúdo, que hoje se chama Oliver e vive em Minas Gerais. Reina absoluto em um casa onde só existem "meninas" de raça nobre.
    4 - Aquele amigo que ouviu os miados, o Marcos, ficou com Batatinha, que atualmente se chama SOCRAM, que nada mais é que o nome dele invertido.
    5 - Eu já havia resolvido que ficaria com a fêmea e como dizem que "Toda gata é uma feiticeira e toda feiticeira tem uma gata" resolvi lhe chamar de "MORGANA" (que quer dizer a "Feiticeira Morena" — aliás, morena como ela, um típico "cálico diluído" com predominância do azul acinzentado).
    6 - Coloquei a foto dos outros dois em um Pet Shop e um garotinho que voltava do colégio se apaixonou pelo nosso Tigrão (que como o nome diz é igual a um tigre e tem os olhos verdes), e lá foi ele para sua nova família, que mantém contato comigo até hoje (nos tornamos amigos), Tigrão não foi "rebatizado".
    Sobrava um: "Zoinho" — o que teve infecção nos olhos e volta e meia chorava durante o dia e ficava no meu colo. Zoinho foi para casa de uma amiga mas não se adaptou ao outro gato e ao cachorro que vivem lá e voltou para minha casa. Depois foi para outra amiga que estava de mudança, mas seu novo prédio não permitia animais. E lá estava ele de novo na minha casa. Depois foi para uma senhora que mora no meu prédio, mas como ele chorava o tempo inteiro ela o devolveu. Pois bem, não tinha jeito, Zoinho queria mesmo era ficar comigo e aí veio a surpresa, descobri que Zoinho não era ele, era ela. Resolvi então lhe chamar de "FRIGG" que é a deusa nórdica do amor e significa "A Bem Amada", dizem que esta deusa é uma lutadora e luta pelo amor universal, pois bem a minha Frigg também  é uma  lutadora: lutou para viver — pois era a mais doente dos 6 - e  lutou para ficar aqui em casa. Hoje é a minha "bem amada". Ela é bicolor: creme e branca e é muito amorosa; sempre me faz uns carinhos — mordidinhas e lambidelas — e quando chego em casa está me esperando na porta disputando com  a Morgana para ver quem ganha colo e dengo em primeiro lugar.
    Bem, esta é a minha história, ou melhor, a nossa, porque é a história de todos que ficaram com os filhotes da Nani e que tiveram suas vidas modificadas (para muito melhor, é claro!) depois de um dia de chuva no qual uma gatinha resolveu nos presentear com seus lindos filhotes.
    Sei que esta história é muito grande mas gostaria que você a publicasse. Pode ser que, sem querer, alguém, que não dá bola para gatinhos,  "caia" nesta  página, leia a história  e resolva levar para casa aquele gatinho que sempre encontra no estacionamento ou quando caminha no Aterro do Flamengo e aí descubra que mundo maravilhoso está por trás daqueles bigodes longos e daqueles miados.
    Mais uma vez parabéns. Um grande beijo,

    Silbene Brigido

     
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