Um gato atravessou pela ruela vazia, passou pelo moreno Ricardo, que se
esbranquiçou de susto. Será que era um gato preto? Não
viu. A noite estava muito escura. Era difícil reconhecer a cor do
bicho. Bambo, Ricardo foi para casa temendo que o azar caísse sobre
ele. Será que o gato era preto?
Ao girar a chave da porta, convenceu-se que não. Entrou no apartamento
e deu um beijo em sua esposa, que o abraçou, sorridente.
— Oi, meu amor – disse ele.
— Oi — respondeu ela, enquanto se balançavam abraçados, como
se estivessem em uma cadeira de balanço, e trocavam beijos e mais
beijos.
Foi tomar banho. E, ao esfregar-se, concluiu que sim, o gato era preto.
Secou-se e vestiu pijama. Foi à cozinha preparar um sanduíche,
quando, desesperado com essa revelação, deixou o vidro de
maionese espatifar-se. Não se cortou, mas teve que juntar os cacos
e os restos. Fez o sanduíche com manteiga, mas derrubou uma fatia.
Comeu a que restou, com presunto, queijo e pepino.
O casal deitou-se. No escuro do quarto Ricardo concluiu que não,
o gato não era preto: tinha enormes listras brancas, recordava-se.
Sua esposa começou a acariciá-lo. E, para sua surpresa, transaram
fogosamente, como há tempos não acontecia. Isso era muito
melhor que papai e mamãe.
Terminada a transa, foram dormir. Ricardo já estava feliz. Sabia
que o gato não era preto. A sensação de azar era pura
imaginação. A mesma imaginação que o fez derrubar
a maionese. Estava quase dormindo, quando sentiu uma estranha dor no estômago.
Então se lembrou do pepino que ele comeu enquanto pensava que o
gato era preto. Que azar.
Leandro Malósi Dóro