JOÃO SEBASTIÃO, MEU GUARDIÃO.
Hoje eu estava triste, me sentei cabisbaixa na cama.
Olhar perdido no tapete de crochê em barbante.
Contava as voltas que a artesã deu para terminar o trabalho,
coisa fútil, sem nexo, mas, uma tentativa de não pensar em
outras coisas.
Uma lágrima rolou pela minha face quente, avermelhada e caiu
sobre o dedo do pé que repousava sobre o tapete. Imediatamente meu
pé se dobrou e sequei a lágrima na beirada dele, quando fiz
isso João Sebastião veio correndo do corredor, pois, de lá
ele me olhava sem se fazer notar.
Entrou no meio do tapete, se enrolou esperando que eu seguisse nossa
brincadeira de tentar tirar-lhe o brinquedo, assim ele agarraria só
com os dentes a outra ponta e puxaria.
Mas, minha vontade era só ficar ali olhando, perdi-me examinando
o branco de seus pêlos, o azul lindo de seus olhos e o cor de rosa
de seu nariz. Seu rabo enferrujado dava voltas e desenhava círculos
no ar, de lá pra cá e de cá pra lá, mostrando
a destreza e controle que manti nha sobre ele.
Ao me ver assim parada, sem reação alguma, ele dobra
a cabeça pro lado se levanta rapidamente e se desenrola. Senta-se
e passa a me observar atentamente. As lágrimas aumentam e caem sem
parar. João dobra de novo a cabeça pro lado e diz:
— Miau?
— Nada não! respondi.
— Miauuuuuuuuuuu!
— Tá bom João, uma pessoa me chateou, mas isso vai
passar logo. Tento um sorriso forçado.
João sobe na cama e esfrega sua cabeça ao lado do
meu braço que está penso ao lado do corpo. Ele se volta e
olha novamente para mim:
— Miau!
— Também te amo!
Agarro ele, trago junto a mim e beijo seu rosto. Ele fecha os olhos
e segura o meu rosto com a patinha (ele realmente faz isso), e eu novamente
beijo o rosto dele e agradeço.
Me deito e ele vem também e se enrola na frente do meu peito
guardando o coração pra ninguém mais machucar!
Vera Vilela