UM GATO
Era um gato e fitava
o mundo sempre alheio.
Ensimesmado fosso,
fora do seu meio.
Era um cacto e ficava
— inesgotável poço
cercado pela areia —
preso em sua teia.Era alguém que falava
pouco e sem rodeio,
garra e farpa na veia.
Era alguém que faltava
no silêncio da ceia,
vazio permeio.Izacyl Guimarães Ferreira
Do livro: Na duração da matéria 2001 - 2010, Editora Scortecci, 2010, SP