(Para Mateu, In memorian)
Engraçada essa sensação
que sinto que meu passado ainda não passou e que
ele vive a cada suspiro, e cada
música, canto de minha casa, sala, quarto,
cozinha.
São mesclados sonhos,
cheiros, gostos, sons, sentimentos de saudosismo que
parece pieguice, mas é
a mais profunda melancolia de ver o que se
transformou o meu mundo.
Meu mundinho que não
passa das paredes de meu quarto.
Ele foi se estreitando, se delimitando,
pois não cabe mais tanta coisa.
Muitos livros, CD´s, uma
parafernália de computação e eletrônicos, enfim,
tanta tecnologia e nostalgia,
que me fazem chorar de saudade dos meus tempos
de gravador de mão e
da vitrolinha que tocava com o auto-falante o disquinho
de vinil "single" das Patotinhas
patinando na capa e vendo a Eliana ainda
adolescente com cara de menina
boba e não aquela apresentadora que parece
uma Barbie, que também
surgiu nessa época e foi sensação, sim porque antes
dessa, eu tive várias
Susies, alguém se lembra?
Li outro dia um e-mail sobre
lembrar de determinadas coisas, e com as
fotos, nossa foi um chororô
desgramado...
Isso porque vocês não
podem nem imaginar, vocês não tem a menor noção
de
minhas brincadeiras na escola,
e os problemas que atravessava de adaptação e
dos colegas me entenderem...
Eu peguei do bambolê,
elástico, iô-iô da coca-cola, aquelas coleções
de
garrafinhas de coca pequeninas,
estava lançando a Sprite, meu Deus, como o
tempo passou. Gostava muito
do Genius, tinha pavor de uma mão verde do Hulk,
alguém se lembra dele?
E um gancho vermelho.
E os jogos da Grow?
Nossa, aqueles play mobil e
casinhas de madeira que montava e fazia uma
cidade, porque ainda não
havia chegado o Lego na minha época.
Enfim, bebia no intervalo, no
Recreio mesmo das aulas, um Ola Ola, sabe
aquela mistura de todos os refrigerantes
de máquina juntos e um misto ou
cheese-burguer...
Jesus amado, como o tempo voa,
ainda ontem eu saia para as festas de 15
anos.
Ainda ontem, eu dei o primeiro
beijo que odiei...
Ainda ontem, passei no vestibular,
e não é que até hoje estou lá na
faculdade presa no passado que
queria que passasse, mas esse teima em não
sair de minha vida.
Meu Jesus, olha aqui a minha
coleção de papéis de carta!
Não, não é
a do computador não, é aquela das pastas e pastas e as
figurinhas, olha?
Figurinhas de álbum Sarah
Key, uma espécie de Ane Geddes da época só que
de desenhinhos bonitinhos, tipo
fofolete, sabe?
E o Amar É... Aqueles
bonequinhos peladinhos com frases lindas de amor,
que nem auto-colantes eram,
que engraçado lembrar disso?
Meninos, e quando começaram
a fazer xerox? Foi um advento para mim
comparado na época ao
computador, sabe... Porque peguei o mimeógrafo e os
carbonos de mamãe me
sujavam toda a mão e os jornaizinhos da quinta série,
eu rodei nele, no mimeógrafo
da mamãe e bati na minha olivete portátil,
super moderna, que nem elétrica
era.
Tinha que rir mesmo, eu nem
sabia que iria fazer tudo assim num
instrumento que depois de tudo
corrigidinho, e olha que nem sempre sai
perfeitinho, agente imprime,
não é legal?
Pois é...
Delícia não é?
Pois então, com um passado
tão doce, o que eu me prepararia no futuro?
Enganaram-me que tudo ia ser
lindo, que eu ia dar certo e que tudo ia ser
florido e lindo em meus lindos
e sorridentes dias.
Esqueceram-se de me mostrar
e preparar pra esse mundo cão, que me engole
na primeira mordida para as
grades de meu quarto que me prende nesse
passado que não me faz
cair no chão...
Cris Passinato