UM GATO PRETO AINDA CEDO ME FAZ PENSAR

Não creio que um gato
Por mais preto que seja
Por mais vidas que tenha
Poderá entender a minha dor
Mesmo que me olhe com o brilho
De seus olhos de vidro
Que balance lentamente o rabo
Quebrando o silêncio com um miado fino
Não há nada que esse bichano possa fazer por mim
Não há nada
Apenas a macia cor de sua pele me fará lembrar
Logo anoitecerei sozinho


POEMA MIO

Esgueirei-me
pelos cantos da casa
pelos prantos da sala
pelos pratos da pia
o meu olho de gato
entre os fantasmas
do fundo do quarto
afundei-me entre botas
fechaduras de portas
no fim das contas
de vidro.

                              Ricardo Alfaya


Leilagatos