Coluna de 28/1
(próxima coluna: 14/2)

Poucos meses atrás, pude degustar o prazer de assistir o espetáculo Varekai – o 14° show – do grupo Cirque du Soleil em Los Angeles. Lona armada, azul celeste – do planeta – em céu e mar, ali estava montada uma tenda de pura magia e encantamento para o começo de uma boa “voyage” (viagem). Não somente pelas cores e formas espetaculares no tom do universo surrealista, mas também pela apurada performance de seus artistas: atores, acrobatas, bailarinos, trapezistas que varriam afora – movidos pela coragem e a beleza – esta exuberante experiência de nos trazer pura arte. Eles desafiavam a lei da gravidade, tocavam o céu em vôos sublimes, dançavam por entre o fogo dos vulcões revelando que tomar riscos – testando os limites – tambem poderia ser divertido e belo, tornando o impossível sonhado bem proximo do possível realizável na ribalta. A palavra Varekai em língua romana quer dizer “wherever” (aonde quer que) e o tempo realmente não passava quando você assistia mudo aos cortes no vento – zapt zupt – rasgados por corpos altamente preparados para tanta agilidade e flexibilidade em movimento. Assim como o lugar, seja aonde for, não importando, porque a jornada em si é mais importante do que a chegada e o destino dos nossos heróis no espetáculo. Vemos abaixo na ribalta, uma floresta escura e profunda, destino de muitos mitos, árvores conceituais de cabos metalicos por onde subiam os elementais seres vivos dessa selva de netherbeings (seres de baixo): minhocas, lagartas, caramujos – e coisas desse tipo – rumando ao céu para alcarem o vôo de borboletas e a realizarem o rito de passagem da crise para a transformação em multicoloridos insetos variados.

Um céu sem limites no trapézio, figurinos de libélulas, borboletas, mariposas entre outras variadas belas formas realcadas pela maquiagem de surpreendente criação. Laranjas, vermelhos, brancos, azuis, verdes, amarelos, sejam multicores ou em cores únicas, balançam e passeiam pelo palco, realizando uma pintura cinética, onde os artistas – e seus corpos – são pincéis de intenso movimento e personalidade a realizar uma grande obra cênica, em ritmos diferentes, todos os dias. Uma experiência de tirar o fôlego de qualquer um. Aonde quer que seja que o circo chegue para sacudir no planeta.

Um pouco da história

O Cirque du Soleil nasceu no Canadá. Tudo Começou em Baie-Saint-Paul, uma pequena cidade aos arredores de Quebec City. Ali, no começo dos anos oitenta, esta banda de coloridos personagens chacoalhava a cidade, balançava o coreto, dançando e se equilibrando em pernas de pau, respirando e soprando fogo e tocando músicas, divertindo seus passantes. Eles eram até então o Les Échassiers de Baie-Saint-Paul (the Baie-Saint-Paul Stiltwalkers), um grupo de teatro de rua fundado por Gilles Ste-Croix. Já naquele tempo, os conterrâneos da cidade viviam intrigados com os jovens artistas e suas performances que incluíam o músico Guy Laliberté, que acabou mais tarde sendo o fundador e hoje o CEO do Cirque du Soleil . Já em meados dos anos oitenta, eles começaram sua formação (exatamente em 1984) por uma trupe de artistas performáticos de rua conhecidos como "Le Club des Talons Hauts"  (O clube do salto alto). Esse mesmo grupo foi o criador responsável do primeiro Festival de Performances de Rua em 1982, o “La Fête Foraine” de Baie-Saint-Paul, sua cidade de origem. Performances de rua sim, coloridas, irreverentes com malabaristas, palhaços, mímicos e engolidores de fogo realizando sua arte nos sinais de trânsito, entre uma pausa e outra e passando o chapéu ao final. A partir da criação deste festival, eles começaram a atrair muita atenção e foi então que passaram a compartilhar da mesma louca idéia de um sonho: criar um circo em Quebec e assim levar sua trupe para viajar, se apresentando em torno do mundo. E, no mesmo ano de 1984, a cidade de Quebec City celebrava seu aniversário de 450th de descobrimento por Jacques Cartier. Com isso, as organizações do governo precisavam de um show que pudesse abraçar todas as festividades pensadas e propostas para serem realizadas através da província. Com esse gancho, Guy Laliberté apresentou seu projeto com a proposta de um show chamado o Cirque du Soleil (Circo do Sol), e foi bem sucedido em convencer os organizadores e patrocinadores da festividade. Desde então, o Cirque du Soleil não parou mais.

Alguns dos membros da formação original, ainda estão ativos a frente do Cirque du Soleil, como já citamos acima, o Guy Laliberté (na época um músico e manipulador de fogo) e hoje o Presidente Fundador. Também Gilles Ste-Croix, que ia a maioria dos lugares andando em pernas de pau naqueles dias e hoje atua como o Director de Criação. E também por último Guy Caron, que trabalhava como ator, e agora dirige algumas produções do Cirque.

Inicialmente, o Cirque du Soleil realizava suas tournees somente com um show de cada vez. De 1984 ate 1989, ele abrangeu uma audiência de, em média, 270.000 pessoas por ano. Em 2003, já em outra fase de planejamento e logistica eles conseguiram realizar não menos do que nove produções viajando e se apresentando em tournées simultaneamente em três continentes. Com isso, somente neste mesmo ano, quase 7.000.000 pessoas puderam assistir aos shows do Cirque. Desde sua fundação, mais de 37 milhões de pessoas já passaram por suas platéias nas quase 100 cidades aonde eles realizaram suas performances e shows ao redor do mundo. Entretanto o quarteirão internacional deles ainda continua com sua locação embasada em Montreal, local onde começaram a fase mais estruturada do grupo.

Eles já receberam incontáveis honrarias de numerosas organizações no mundo, em torno de todo o globo, pelo reconhecimento de suas conquistas artísticas, assim como também dos negócios de suas artes. Entres as honradas e famosas distinções estão os prestigiosos Emmy, Drama Desk, Ace, Félix, e o prêmio Gémeaux, assim como a Rose d'or (Rosa de Ouro) de Montreux.

No momento, Varekai de estar em tourné em Austin no TX,  até o mes de março, também trabalha na produção material, diversificado suas atividades comerciais, como por exemplo: audiovisual, filmes, publicações e o campo de merchandising. Esses últimos seriam os objetos de decoração com design assinado por artistas relacionados ao Cirque, roupas, acessórios, máscaras, bolsas, coleções de copos para vinho, licor e whisky, canecas, porta-retratos e uma infinidade de objetos criativos que vão muito além do simples “poster e postal” com fotos dos espetáculos, geralmente realizados por grupos desse tipo. Em 14 de dezembro de 1998, o Cirque abriu sua primeira loja em seu teatro permanente no centro da cidade de Disney West Side, propriedade de Walt Disney World ® Resort, perto de Orlando, Flórida. Hoje, também presente em Las Vegas, no cassino Bellagio com três espetáculos em cartaz simultaneamente, o Cirque du Soleil continua firme na venda de seus produtos. Ao sair dos espetáculos, nos deparamos com uma loja bem na esquina do teatro, pronta para encantar sua platéia que está fascinada com o que acabou de ver e que quer levar um souvenir ou um objeto artístico mais elaborado para casa, relembrando (e eternizando) assim os momentos de magia ali vividos.

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Referências webliográficas: Site Oficial do Cirque du Soleil - wwwcirquedusoleil.com  Programa do Show Varekai - in tournée