TEATRO MUNDI
PAULA VALÉRIA ANDRADE 
Paula Valéria é escritora e designer, produtora e publicitária em design gráfico, diretora de arte, cenógrafa & figurinista em cinema, teatro, TV, com prêmios APCA, Mambembe e APETESP. Realizou 30 espetáculos em 15 anos de teatro, alguns inclusive no estrangeiro. Viveu em Londres, estudando História do Vestuário no Victoria & Albert Museum e, em Berlin e Bradenburg, trabalhou com cenografia para 1ATV. Reside atualmente em S. Francisco/Estados Unidos.
Coluna de 28/3
(próxima coluna: 14/4)
um mix de teatro+música faz os atores de pele azul, inovadores.
Blue Man Group é um grupo fora de qualquer padrão dos clichês. Como um já bastante conhecido grupo de artista multi-tasks, por suas peripécias teatrais com seu trabalho não-convencional, neo-expressionista, quase surrealista, extremamente físico e visual aqui nos Estados Unidos, eles vieram para ativar e não adaptar. E finalmente acabaram mais (re) conhecidos por suas produções premiadíssimas e as positivas criticas que os descrevem como "ground-breaking” (quebradores de chão/base). O que cabe muito bem aqui, pois o que eles fazem não fica atras em termos de arrasar com as estruturas já preestabelecidas do que deve ser uma boa performance teatral, principalmente nos EUA, onde o teatro tradicional, na sua maioria comercial, ainda impera nas casas de fartas platéias. Os mesmos musicais e Shakespeare's de sempre são os textos/direções presentes na maioria das produções. Pouquíssimas instituições patrocinam ou financiam teatro experimental e isso fica muito claro para quem busca uma grant (apoio). Tirando algumas poucas, boas e louvadas exceções, claro.
Mas o suspiro profundo e o respiro desses moços vieram pra ficar na contra-mão da expectativa geral do que deve ser uma competente produção. Não é para menos, pois são de fato muito hilários em cena e além da habilidade de conduzirem a prática de uma estética estonteante, são também poderosos musicalmente em suas performances. Tudo começou com um trio de amigos atores e músicos, cansados das mesmices propostas e repetidas a quatro cantos por lá e cá. A partir desse eixo em comum, eles começaram em passos simples – embora nada simplistas – com idéias e ensaios desenvolvidos nas garagens de suas casas. Um grupo ambicioso no sentido de furar o mercado das grandes produções da indústria de entretenimento americana com a certeza – e perseverança – na qualidade e originalidade de seu trabalho apresentado. E eles conseguiram em poucos anos e muitos insights e ensaios. E pouquíssimos padrinhos. Ou quase nenhum.
Estas inusitadas performances compõem-se de três atores carecas maquiados totalmente de azul, ou seja, eles são caracterizados para dar este estranhamento do não-humano, da pele azul associada a não-presença de cabelo, algo meio extra-terrestre ou meio ciborgue robótico. Seres nunca vistos que chegam no intuito de chacoalhar suas referencias teatrais, como platéia tradicional. Eles tomam sua audiência de susto e exctasy conduzindo-a nesta experiência multisensorial que combina muito bem o teatro, a música de percussão, arte, ciência e um tom de vaudeville numa forma de apresentação, happenning e até mesmo entretenimento como nunca se viu antes. Alguns podem gostar, outros talvez não, mas o fato é que a originalidade está presente e respira por todos os poros da proposta artística desse grupo talentoso.
Pessoas do mundo inteiro, oriundas das mais variadas e distintas calcadas e avenidas da vida e do planeta, de toda e qualquer idade já se tornaram fas e audiência turista ou cativa do Blue Man Group's show em New York , Boston , Chicago ou Las Vegas. A estréia internacional do grupo ocorreu em Berlim, recentemente em maio de 2004 e eles estão com um projeto de inaugurarem um show em Toronto, no próximo junho de 2005.
Além da identidade visual irreverente associada a todo o trabalho de corpo existente e consistente na cena teatral, eles também são conhecidos por seu estilo único na performance musical que realizam com uma variedade de instrumentos inventados por eles mesmos. Blue Man Group's 1999 debut álbum, AUDIO foi nominado para o Grammy na categoria “Best Pop Instrumental Album”. Um crítico na época fez a resenha aclamando-os como "a glorious wall of sound" (uma gloriosa parede de som). Ou seja, esses rapazes são a própria multimídia personificada no teatro contemporâneo. Não simplesmente pelo uso dessa ou daquela tecnologia, mas pela proposta de um remix calidoscópio nas linguagens de que se apropriam com destreza. Independente do texto que escolhem para encenar, o que importa aqui é a colagem pastiche, e ate mesmo um senso Deleuziano na formatação final de seus trabalhos.
Atualmente, eles lançaram seu segundo álbum, The Complex, que veio servir como grande elemento de partida para a nova fase de suas performances enigmáticas. Com a participação de alguns dos mais intrigantes vocalistas do momento o grupo se move agora em direção distinta na categoria instrumental. Durante o processo de composição de The Complex , Blue Man Group criou simultaneamente um estado-de-arte (state-of-the-art) rock show que captura com precisão os temas e os humores do álbum. Dos palcos teatrais para uma nova fase de tourneys agora, The Complex Rock Tour tem sido bem recebido como “algo impar na musica atual enfatizado pelo inalterado bom senso de humor, habilidades teatrais e diversão” segundo The Chicago Sun-Times. Durante o verão de 2003, eles visitaram mais de 70 cidades de costa a costa na América do Norte e o rodapé de dois de seus shows anteriores foram incluídos junto com alguns music videos e canções selecionadas do The Complex in 5.1.Surround Sound. Este veio a ser seu primeiro concerto em DVD, nunca antes editado, onde o Blue Man Group's teve um grande retorno com The Complex Rock Tour Live . Recentemente, o DVD recebeu o raro e aclamado certificado de Platinum.
Em 2004, o grupo também ganhou apoio de critica e bom ibope para sua primeira aparição na televisão através dramático som criado para FOX's “The Jury,” produzido por Barry Levinson e Tom Fontana. No momento, Blue Man Group acabou de trabalhar com afinco nos estúdios colaborando com John Powell na música desenvolvida para a animação da 20th Century Fox's, em sua nova produção “Robots” (nos cinemas em março 2005), dos mesmos criadores de Ice Age. Se você tiver curiosidade pela sua sonoridade, vá conferir logo.
Para contrabalançar este lado pop musical, o grupo também criou alguns espetáculos de teatro, com instalações, "happenings" para seus fãs do trabalho inicial. Eles jamais abandonarão o teatro e a questão cênica que perseguem desde o embrião da criação do grupo. E em meio a tantas aparições também podemos citar um considerável número de performances específicas para televisão no "The Tonight Show" muitas das quais eles já foram nominados para o Emmy awards. No entanto, eles sempre são eles, mantendo a identidade não importando aonde colaborem. Algo raro e difícil de se conquistar no mundo moderno das artes e da mídia, que quase obriga o artista a se amalgamar a visão de cada direção em questão.
Para esses caras, o teatro, a música e as artes continuam cada vez mais numa boa, com muita qualidade e com tudo azul.
Para saber mais ou ver as imagens visite www.blueman.com