Coluna de 28/8
(próxima coluna: 14/9)

Um fio dourado na agulha, o teatro árabe em San Francisco

Na coluna de hoje resolvi falar de um grupo teatral bem incomum nos Estados Unidos, incomum não devido somente à temática abordada, mas, também, à localidade em que se encontra para falar de seus temas. Principalmente hoje em dia em tempos de Guerra no Oriente Médio, tanto entre Israel e Palestina como entre os EUA e o Afeganistão.

O Golden Thread Productions é uma organização de performances dedicadas ao teatro e a dramaturgia que vem explorar a cultura e a identidade do Oriente Médio representada pelo mundo afora. Localiza-se em São Francisco, uma das cidades mais democráticas e liberais — não somente na Califórnia, como também nos país inteiro. E por isso mesmo, apesar de todos os conflitos internacionais e políticos em jogo, sua liberdade de expressão está bem protegida. O grupo não se abala. Embora traga na sua maioria artistas e dramaturgos das nacionalidades de países como Iran, Armênia, Egito, Palestina, entre outros; não somente defende sua bandeira cultural no espaço geográfico do Tio Sam, como também traz um inquieto e provocador pensamento no intuito de promover um denso e crítico diálogo entre os costumes do East side e do Ocidente como um todo.

A idéia não é apenas descobrir, desenvolver e apoiar os artistas do Oriente Médio imigrantes e residentes locais, mas também desenvolver e produzir trabalhos inovadores, intrigantes e de consciência social, os quais possam instigar e influenciar sua audiência. Muitos são autores que ainda vivem por lá mesmo, bem longe da cultura Ianque. Com essa missão também inclui-se a promoção de textos originais, liquidificados num rico suco, expostos em montagens com diversidade de estilos árabes ou melhor dizendo, do Oriente Médio como um todo.

Visão

Torange Yeghiazariam é uma jovem escritora iraniana e fundou o Golden Thread Productions em Outubro de 1996 sem apoio cultural ou patrocínio, mas com a ajuda de seus amigos mais próximos e de sua família: Maria Zamroud, Termeh Yeghiazarian, Gen Hayashida, and Kamshad Kooshan. O nome do grupo foi inspirado no mito de Aridne que ofereceu a Theseus um novelo de linha dourada para guiá-lo até a entrada do labirinto. Desde então, Torange não somente montou seus espetáculos como dramaturga, como também começou a promover os textos de autores de sua cultura, até então inéditos para o público americano. Isso mesmo, ela fundou um grupo de teatro underground árabe no seio da Califórnia, sozinha, sem grana, 9 anos atrás. Algo absolutamente ousado para uma jovem mulher iraniana. Inclusive algo muito ambicioso para uma cultura onde a mulher deveria se bastar com o casamento e o dever de criar filhos, ficando em casa. Mas Torange foi muito além das expectativas de sua cultura de origem para com o sexo feminino. Hoje, ela é a diretora artística do grupo que além das montagens anuais também criou um festival de novos dramaturgos.

Através do poder transformador do ”Theatre Golden Thread Productions ” (“Produções Um fio Dourado na Agulha” ) e sua proposta participativa de criar um mundo onde as experiências humanas se sobressaem a tantas diferenças políticas e culturais, muitas audiências já foram tocadas a fundo. E vivenciaram incríveis processos de melhoria na interatividade com a cultura Ianque. Assim como também reciclaram certos posicionamentos mais conservadores com as mulheres. Na vasta  imaginação do grupo, o Oriente Médio esta definido não somente pela fronteiras geográficas e suas separações políticas mas também como uma experiência compartilhada de pessoas que através da história foram tocadas por seus contos, melodias e aromas. O Oriente Médio vive nestas almas, vive dentro de cada um deles, mesmo imigrantes, e assim como eles se redefinem, eles acabam por redefinir um novo olhar sobre este velho modo de ser e de contar uma história. E eles acreditam que assim ele pode ser reconquistado e repensado em contraste com o Ocidente.

História

A estréia do primeiro espetáculo teatral ocorreu com "Operation No Penetration, Lysistrata 97!" (“Operação Não Penetração Lysistrata 97”), uma clássica comédia Grega anti-guerra que foi adaptada para o Oriente Médio, colocando então as mulheres Palestinas e Israelenses unidas no propósito de forçar os seus homens a assinarem um tratado de paz. Desde então, a companhia teatral continuou a apresentar criativamente várias questões sociais bastante desafiadoras em seus palcos. A montagem a seguir foi "Deep Cut" (“Corte Profundo”) da autora Karim Alrawi, uma peça que ousou lidar com o tema da circuncisão feminina e tortura. Ela foi dirigida por Hal Gelb, e dialogou o tempo todo com a questão se, deve-se ou não interferir com a cultura alheia e a despeito do quê. Principalmente quando a tortura e a violência estão no foco. A produção recebeu ótimas críticas dos jornais Pacific Sun que a descreveu como “…a play that makes you think” (uma peça que faz você pensar) e também o Synapse  que disse “An Absolute Pleasure to watch” (Um prazer absoluto de se assistir). Já em 2002, com o dobro da audiência em números de ingressos vendidos, foi apresentada a première de "Nine Armenians" (Nove Armênias), da autora Leslie Ayvazian, no maior e famoso Magic Theatre. Tanto a crítica como o público de espectadores aplaudiram em cena aberta o trabalho impressionante do elenco e da direção.Sem contar a apresentação de um tema nunca antes abordado desta forma nos palcos Estadosunidenses. Desde 1999, o Golden Thread Productions também começou a produzir o festival anual de novos dramaturgos em peças curtas (Short-plays): ReOrient. Em média, são apresentadas de 6 a 8 peças teatrais de textos inéditos e vencedores do concurso promovido pelo grupo. Este seria um tipo único e inédito de festival a ser realizado nestas bandas da Califórnia, porque além de tudo, são premières mundiais, fazendo de San Francisco a meca do teatro do Oriente Médio no mundo Ocidental.

Visite o website do grupo: http://www.goldenthread.org