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Bjs p vc, blz?

24/10/2004

Você acha que sabe ler? Então, leia a seguinte frase: "Aiiii blz? C vc naum entendee nd, fq tranq pq jaaa vmus traduzi". Agora, a tradução: "E aí, beleza? Se você não entender nada, fique tranqüilo porque nós vamos traduzir".

Esta nova linguagem aparece na tela do computador de 7 milhões de brasileiros que usam a internet para conversar, ao mesmo tempo, com vários amigos. É a tecnologia de dois comunicadores instantâneos: o ICQ e o Messenger.

Camila é fissurada em ICQ. "Fico falando das novidades, o que a gente vai fazer no final de semana", conta. Ela domina a técnica, mas a mãe... "Olha isso: 'I kik cum ela'. Traduzindo: ‘Se você for chamar com ela e quicar com ela, ela vai ficar bolada".

E o que é quicar? "É não dar bola para ela", explica Camila.

"Isso me deixa aflita porque acho que é uma geração que lê muito pouco ou quase nada. É uma geração que não lê jornal, não lê revista nem livro. O livro é obrigatório na escola, que ela lê na véspera da prova. E escreve deste jeito! Ou seja: onde o português vai parar?", indaga Márcia Eduarda Faveret, mãe de Camila.

Em uma sala de aula, a resposta é unânime: todos conhecem o ICQ.

"É muito inteligente. Eles conhecem o mecanismo da língua. Apesar de, como professora de Português, eu fico meio atônita, a gente não pode deixar que isso passe desapercebido. É muito inteligente da parte do jovem porque ele utiliza os fonemas. Se aparecer essa nova linguagem em uma prova ou em uma redação, eu vou ficar muito assustada, mas vou entender a origem. Como professora, eu vou deduzir os pontos devidos", avalia Rosana das Graças Nogueira.

Afinal, essa linguagem é certa ou errada? Lêdo Ivo tem 80 anos e 60 de poesia. É um imortal. O que será que um membro da Academia Brasileira de Letras acha dessa nova linguagem?

"É praticamente a mesma linguagem que eu uso, porque a linguagem de poeta e a linguagem de criança é a mesma coisa. É uma linguagem cifrada", define o acadêmico, que pergunta: "E meu nome nesta língua, como se escreve?"

"Ledu Ivu". "Está ótimo. Melhor que no original, muito mais bonito", ri o poeta. "É uma língua fonética, muito econômica, muito lacônica", avalia.

Será que o imortal prefere esta língua ou a língua culta? "Eu prefiro as duas, porque acho que a pessoa deve ser, no mínimo, bilíngüe", comenta Lêdo.

"Mas tem alguns professores que não gostam", diz uma jovem. "São professores caretas", responde Lêdo.

Dez minutos e o professor Lêdo Ivo já consegue ler todas as mensagens. Ele, então, lança um desafio: "Acho que vocês precisam traduzir um poema meu nesta língua".

"Prefiro essa tradução a para o inglês ou para o alemão. Estou me sentindo um poeta do meu tempo, do dia que passa. É como se eu estivesse freqüentando filólogos e lingüistas", declara Lêdo Ivo, que pergunta:

"Você aceita ser meu companheiro na Academia Brasileira de Letras?", pergunta o escritor.

"Acto". Traduzindo: "Aceito".

"Então, está quase eleito", finaliza Lêdo Ivo.

Fonte: http://fantastico.globo.com/Fantastico/0,19125,TFA0-2142-5508-192478,00.html
Enviado por: Leninha