Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
abril de 2002
Meu encontro com Ruth Cardoso
Sempre tive a impressão que Brasília era a Ilha
da Fantasia. Um lugar onde os sonhos tornar-se-iam realidade.
Lá, tudo acontecia!
No Brasil é assim, há um fascínio generalizado
pelos homens que vivem no planalto central. São inquilinos
de um castelo de areia. Talvez a monarquia ainda seja o desejo
oculto de um povo sequioso por contos de fadas.
Há cada quatro anos, eleições interrompem
a seriedade de uma representação figurativa e interesses
outros se digladiam por novas conquistas.
Buscam troféus de barro! Assim é Brasília.
Um lugar, onde as aparências enganam!
Naquele lugar quente, inóspito, vivem mulheres que ousam
sonhar. Sonham com um mundo mais justo, sem violência, onde
jovens possam estudar e se capacitar. Jovens passageiros num trem
de cidadania.
Naquele lugar quente, onde o ar brinca de ferir um saudável
respirar, mulheres solidárias oferecem seus préstimos
para que uma brasilidade ainda ignorante possa beijar um ideal
de todos poderem trabalhar.
Aquele lugar quente, não guarda o poder de jogar. Lá,
não se joga o jogo da vida. Lá, briga-se pelo falar,
não pelo fazer.
O poder de jogar e inserir na vida todos os jovens dela excluídos
está nos sonhos de algumas mulheres que vivem naquele lugar.
São mulheres de almas nobres.
São Ruths, Lolas, Marias e Amélias.
São mulheres encantadas, outras consumidas, rasgadas. São
mulheres descalças, subnutridas, mães desesperadas,
odiadas.
São todas brasileiras, filhas de uma pátria injusta,
inutilmente feminina. Que ainda gera pobreza em seu ventre, para
o grande show de homens loucos por um poder sem dignidade, que
não mata a fome, apenas sacia vícios de vida cheia
de insanidade.
Não sou tolo em maldizer o poder de governar. Pois sei
que todo poder vive a desdizer o que antes disse pelo não
fazer ao justificar. Mas, por certo direi: de whisky nunca me
embriaguei, pois só bebo guaraná.
Fui com outra mulher aquela bela mulher visitar. Quem comigo foi
não era de Dirceu, mas era Marília de Oliveira Silva,
do Ministério do Trabalho, que também ousa o mesmo
sonho beijar.
Ao vê-la, Ruth Cardoso, aumentou nossa admiração
pela humildade ao ouvir e receber. Pelo brilho no olhar ao fundir
desejos de um país melhor onde jovens colham com maestria
o direito de estudar e trabalhar.
Há poucos metros, assentava com o olhar outra mulher que
também quer uma sociedade pela vida digna lutar. Lola Berlinck,
a qual tive o prazer dantes conhecer em momento de exposição
de projetos a querer vivenciar, que
depois viraram programas e rodam soltos pela estrada da cidadania
a caminhar.
Pediu-me Ruth desculpe-me o tratamento, pois a respeito
na forma lindamente humana que nunca desistisse de meus
sonhos e de levar adiante o programa de uma cidade que o adotou
como seu o fosse. Como o bem o é.
Um sorriso contente brotou nas almas de todos os presentes e uma
certeza clara ficou: O Poder nunca esteve em Brasília.
Está nos sonhos das mulheres que lá vivem. E quando
algumas partirem, levarão suas esperanças e doces
almas, vestidas de nobre encantamento.
Peço perdão por exprimir meu grande desejo: Mas
vou mobilizar poderes e interessados para uma grande empreitada
de amor pungente. Nela gostaria de contar com Ruths, Lolas,
Marílias, Neides, Célias, Cidas
e todas as mulheres que ousaram um dia parir um sonho de igualdade
e dignidade por um mundo melhor.
Vamos transformar a realidade de poucos em sonhos de muitos e
quem sabe um dia possa falar da sorte de ter tido o prazer de
conviver nesse mundo com pessoas admiráveis e que ainda
desejam que o pão nosso a todos alimente.
Estrelas vivas que ainda iluminam a noite negra que cobre uma
grande pátria gentil. Abençoada pela natureza e
mal amada por seus homens amantes. Inutilmente, de alma feminina.
Douglas Mondo
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