Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  abril de 2002


O Encontro Casual

Ele estava a dois passos de mim e me olhava como se quisesse me abraçar. Há muitos anos não o via e agora ao perceber aquele homem tão bonito que eu tivera a ilusão de amar, sentia que o que restara para mim fora apenas uma terna
lembrança. Terna, mas distante. Sentindo seus olhos concentrados em meu rosto imaginei que estivesse querendo captar o que se passava naquele instante. Estava simplesmente sentado atrás de uma mesa de executivo e cuja porta eu abrira por
engano quando na verdade quisera visitar outra pessoa. Mas algo além da surpresa e do chamado dele me fizeram entrar na sala.

Fui me aproximando devagar até que ouvi o som da sua voz:

— Você não mudou nada. Continua a mesma mulher pela qual me apaixonei!

— Então ambos não mudamos...

Ele riu, mas o som me pareceu apenas um arremedo da gargalhada que ele quisera encenar. E me perguntava o que me parecia bizarro naquela cena inesperada.

— Continuo apaixonado por você e fixado e fascinado pelos seus olhos.

Recordei, então nosso relacionamento tempestuoso perguntando-me se ainda havia muito da antiga intrepidez em seu temperamento impulsivo. E imaginei que sim, só que compreendi que parecia ter receio de alguma coisa. Mas não tinha certeza.

— Acho que hoje podemos ser amigos embora depois de nosso último encontro nunca mais o tenha visto.

Seus olhos grandes e escuros me pareceram ainda mais negros com a sombra das recordações a perturbá-lo e perguntei-lhe sem me conter

— O que há com você? Aconteceu alguma coisa além desse nosso encontro casual?

— Já foi a alguns anos mas me responda. Foi morar em outro lugar?

— Sim , por uns tempos. Mudança de emprego e também de lugar.

— E nunca mais pensou em mim ou quis saber notícias?

— Preferi assim. Reatamos várias vezes nossa relação por aquela paixão que nos consumia, mas sabíamos ambos que não daria certo. Nossos temperamentos sempre foram opostos. Tínhamos que aprender a viver sem ela.

Quando o fixei seu rosto estava devastadoramente amargurado enquanto me perguntava:

— Então não soube de nada?

— Nada o quê? e estava ansiosa quando fiz a pergunta.

Ele não respondeu. Apenas deu um impulso à sua cadeira de executivo e chegou até perto de mim, num segundo tão rápido que tive a ilusão de estar tendo um pesadelo.

Suas pernas imóveis na cadeira pareciam inertes e frágeis debaixo da calça leve e não sei como nem porque lhe perguntei ainda:

— Como aconteceu isso. Não pode andar?

Algumas lágrimas que ele não conseguira impedir desciam de seus olhos enquanto dizia:

— Tortura maior foi imaginar que você tinha ido embora para não me ver depois do meu acidente.

Permaneci calada, enquanto a dor tomava conta de mim, Transtornada e petrificada, tentando compreender porque razão não fora me despedir quando resolvera definitivamente mudar de vida e de cidade. Sentira desejo e lutara contra isso. Por quê?

Vânia Moreira Diniz