Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  fevereiro de 2002

SOBERBA

Tola, julgava-se credora do mundo.

Dona de irrefutáveis verdades e incontestáveis certezas, dizia-se pronta para morrer, por conta de tanta vivência.

E toda noite morria de morte lenta e dolorosa. Para ressuscitar nos dias seguintes, sempre do mesmo jeito, com vontade de não viver.

Sabedora de tudo, pairava absoluta, tal e qual coroa de Santo, sobre as inocentes criaturas que mal haviam iniciado o jogo de somar mágoas e diminuir amor.

Era assim, sardinha da própria brasa, defensora incosteste das próprias causas, pois de outras, não sabia.

Era assim e ressuscitava todos os dias,... com cara de tédio e morte.

Liqüefazia-se dentro das próprias crenças: se chorava era de gozo,... se ria, era de vingança e desgosto.

E de tanto pedir, morreu. E não houve quem lamentasse. Sequer cria tivera, que lhe garantisse o alívio de ter seu nome impresso em papel amarelo: Prova de Nascimento.

Foi assim - tola - que morreu, desconhecendo o jogo dos inocentes, das somas e partilhas, das verdades e mentiras... tola, morreu igual a um domingo nú e vazio, definitiva e irremediavelmente unida a um pobre e estúpido umbigo.

Mariza Lourenço