Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
fevereiro de 2002
Seqüestro - O Grande Temor
E o homem, com medo da escuridão na caverna se escondeu.
Idos tempos havia escravos, e nada mudou. Tempos modernos há
operários, e tudo continua igual.
Tempos futuros haverá lumpemproletariados, e o homem morrerá.
Atirarão sobras aos homens-porcos, aos chafurdeiros humanos.
Idos tempos havia florestas, e a natureza sorria. Tempos modernos
há madeireiras, e as casas brilham. Tempos futuros haverá
cavernas, e a escuridão prevalecerá. (Douglas Mondo)
A escuridão da noite trazia sons de morte e pavor. Por
trás de cada pedra, de cada árvore ou arbusto poderia
surgir um predador e devorar o homem. Sem aviso, sem dar chances
de defesa ou mera argumentação.
Reduzir o espaço pessoal e demonstrar ao homem que seu
início e seu fim são joguetes de poder e impotência
é voltar ao tempo em que a escuridão era o grande
temor humano.
Por trás de cada edifício, de cada carro ou moto
poderá surgir um bando de seqüestradores e prender
o homem. Sem aviso, sem dar chances de defesa ou mera argumentação.
O círculo da mediocridade humana se fecha. O homem poderá
estar iniciando o
encerramento de seu ciclo de existência.
As sociedades humanas produziram a escravidão, onde os
mais ricos eram proprietários dos mais pobres.
As sociedades humanas produzem os operários, onde os mais
ricos se servem dos mais pobres para manutenção
de sua casta de privilégios.
No futuro, as sociedades humanas produzirão indivíduos
desvinculados da produção social e que, marginalizados
atacarão os mais ricos para divisão da riqueza.
A miséria extrema separará dominantes com esperteza
política e sem consciência coletiva, da grande camada
operária explorada e do resto da humanidade constituída
pelos chafurdeiros humanos, que seqüestrarão e matarão
a todos sem dó nem piedade.
A solução advinda da esperteza política
é a mera satisfação da indignação
humana com a redução do marginalizado ao seu estado
de improdutividade social.
Nada além do imediatismo e da manutenção
das regras sociais. Apenas o fortalecimento do Estado para contra-atacar
os frutos da marginalização oriunda da injusta divisão
da riqueza.
Achar que um Estado bélico possa ser a solução
contra o avanço da lumpesinagem é brincar de faz-de-conta
com o restante da sociedade. É achar que somos todos desprovidos
da arte do pensar.
A casta privilegiada que se locomove em automóveis blindados
e se esconde em
residências guardadas por homens armados, deve tomar consciência
que o Estado a servir-lhe não produzirá a segurança
de que necessita.
É necessário que a sensação de segurança
e a segurança advinda do Estado estejam à disposição
de toda a sociedade e não haja o crescimento do lumpesinato.
É necessário que o Estado fique efetivamente a
serviço de uma justa arrecadação tributária,
tirando de quem mais tem para distribuir riqueza em serviços
essenciais a quem menos tem.
Com um equilíbrio maior entre as camadas sociais, não
haverá o crescimento das agressões bestiais como
o aprisionamento do cidadão em cubículos animalescos,
tanto impingido ao pobre quanto ao rico.
A moeda que traz a estampa da violência acabará
por confinar o homem em seu
estado primitivo e sempre terá duas faces. Uma da hipocrisia
do Estado que
aprisionará o homem em desumanos cubículos e outra
a do marginalizado que
aprisionará sua vítima para obtenção
da riqueza negada pelo próprio Estado.
Ambas desumanas e bestiais. Ambas igualando humanos desprovidos
de consciência coletiva. Ambas moedas de troca, somente.
Douglas Mondo
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