Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
janeiro de 2002
A Luz do Sol
O homem sabe que o poder corrompe. O homem quer o poder para
mudar o que
está errado. Logo, o homem quer se corromper para mudar.
Em qualquer sociedade, se verificarmos quantos cidadãos
estão aptos a governar nossas vidas, verificaremos que
os governantes são os mais despreparados possíveis.
Com raras exceções, o governante é aquele
cidadão dos acordos duvidosos, das
alianças espúrias, dos acertos financeiros, das
decisões especulativas e dos lucros fáceis.
São os defensores do velho axioma: "A Política
é a arte do possível!"
Por isso governam. Exatamente por viverem à margem de
um mundo inteligível.
São os detentores das almas lamacentas que caminham sempre
em direção à escuridão da noite e
não da transparência luminosa das idéias em
prol do bem comum.
O mais triste é que fascinam o restante da sociedade que
se curva aos ditames de regras injustas e traiçoeiras,
numa perigosa brincadeira de sedução, num frenético
jogo sádico e masoquista.
Todos conhecem as regras dos jogos políticos e todos fingem
desconhecê-las.
Brincam de faz-de-conta que as aceitam e tentam ludibriá-las
com riscos às vezes incalculáveis, enquanto governantes
decidem com falsas seriedades os destinos de milhões e
milhões de seres humanos como se interpretassem as mais
loucas tragédias.
Todos interpretam e todos se odeiam na mais aparente paz.
O poder seduz o ignorante, o despreparado, o homem que não
caminha em direção à luz, mas que precisa
do jogo político para se sentir importante. Fora do jogo
não sobrevive a um mínimo pensar.
O aprendizado para tornar-se um homem lúcido passa por
sofrimento e solidão, já que pensar é um
ato individual e necessita abstrair-se de prazeres materiais e
transitórios.
Pensar necessita querer sair das trevas da ignorância com
coragem e abnegação.
Governar, não. Necessita apenas saber jogar o jogo político
com cartas marcadas e ter às mãos recursos materiais
para a compra de poder.
Governar não exige sabedoria. Apenas viver em má
educação.
É possível mudar? Sim, é possível.
É possível criar novas regras para que possam ser
vivenciadas por um número maior de pessoas e os jogos das
decisões políticas serão jogados com possibilidades
maiores de exclusões de vícios e corrupções.
Inicialmente é preciso saber que é possível
mudar. Qualquer pessoa pode tornar-se um indispensável
ator social, com papel preponderante e inegável determinismo
político.
As amarras individuais são verdadeiras prisões
guardadas pelo medo e pela ignorância, onde quebrar os ferrolhos
leva o homem ao caminho da luz e da sabedoria.
Uma vez livre, a própria liberdade se encarregará
de uni-lo a outros homens, também livres, formando nova
corrente do pensar.
Há um texto maravilhoso de Platão, onde sob a forma
de Alegoria ele transmite simbolicamente um sentido profundo sobre
as amarras e ignorâncias humanas.
Chama-se A Alegoria da Caverna, que é um diálogo
entre Sócrates e Glauco, onde prisioneiros vivem amarrados
dentro de uma caverna e somente podem olhar para frente.
Atrás deles há uma fogueira e entre ela e os prisioneiros
há uma mureta onde sobre ela manipulam-se marionetes e
homens transportam estatuetas de figuras humanas e de animais.
Os prisioneiros vêem somente as sombras projetadas desses
objetos. Como nunca viram na vida nada além das aludidas
sombras, os prisioneiros não conhecem a existência
dos objetos e nem de outros homens dentro e fora da caverna.
Os prisioneiros imaginam que as sombras são os próprios
objetos e a luz da fogueira é a única existente
no mundo.
A caverna representa nosso mundo. Na maioria do tempo apenas
enxergamos as sombras dos objetos que nos apresentam e deixamos
de vivenciar um mundo maior e iluminado.
Vamos sair da caverna. Vamos descobrir que a luz do sol brilha
intensamente e é possível determinar que os rumos
das nossas vidas podem ser direcionados por nós, não
por homens de almas lamacentas.
Douglas Mondo
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