Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
janeiro de 2002
Hoje é meu dia de Recolhimento
Hoje é meu dia de recolhimento. Entre alegrias e tristezas,
dores e exultações, meu coração chameja,
qual a luz intensa do sol quando as nuvens, contudo ameaçam.
Hoje é meu dia de recolhimento dividida entre o que escrevo
e o que vivo, sem saber se agradeço por estar aqui ou peço
desculpas ao criador por não me sentir à altura
de minha missão. E então me recolho comigo mesma,
numa solidão gratificante, recusando toda e qualquer companhia.
Por enquanto só espero aceitar meus próprios sentimentos
e dosá-los com as emoções sempre nascentes
e vívidas.
Hoje é meu dia de recolhimento, observando densas nuvens
a se formarem num céu não muito azul. Visualizo
o horizonte que talvez um dia pensei não alcançar
e que atualmente enxergo apesar da fumaça ao longe como
uma visão de esperança renovada. Penso nos tesouros
que perdi pelo caminho, sem notar sequer o quanto significavam
em toda a sua extensão e tento me aproximar, arrependida
e traumatizada.
Hoje é meu dia de recolhimento, em que procuro equilibrar
a saudade e as doces recordações compensando uma
realidade plena e fascinante com intervalos de reflexões
doloridas e experiências gratificantes. Creio que é
meu dia de egoísmo em que me distancio da realidade e procuro
os reflexos que trazem os gritos que minha alma emitem com veemência.
Não me afasto de mim e continuo concentrada interiormente
em uma vida paralela. Distante, mas incrivelmente presente.
Hoje é meu dia de recolhimento e sinto-me confortada
na escuridão, serena, imparcial em meus conceitos, ausente,
ocultando meu entusiasmo e querendo compreender a plenitude que
experimento em cada momento vivido.Indagando-me quem sou eu e
porque me encontro aqui. Não quero, entretanto, responder
a nenhuma pergunta e nem fazer confissões, apenas me recolher
sem compromissos ou razões aparentes.
Hoje é meu dia de recolhimento em que me permito deixar
que a energia do universo não me domine e concordo em me
sentir frágil, vulnerável e profundamente introspectiva.
Em crer nos meus sonhos mais delirantes, vagueando pela imaginação
fantasiosa e ardente e capturando os ideais dos quais nunca me
afastei.
Hoje é o dia de recolhimento do meu eu contraditório
vagueando entre coloridos inesperados e vibrantes, deixando que
as sensações dominem onipotentes, sejam quais forem
as imagens desejadas. E grito, choro, declaro amores, paixões
, dores, alegrias enaltecendo a felicidade e olvidando as tristezas,
para procurar viver um dia de cada vez plenamente e com uma riqueza
jamais esquecida.
Vânia Moreira Diniz
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