Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
janeiro de 2002
Sujeito a chuvas
Domingo de chuva em janeiro
loucura do tempo
loucura dos homens
nos shoppings.
Cinema? Impossível
entrar.
Almoçar, então,
nem pensar.
Volto pra casa
na chuva
sem frio
faminta
de vida
(Tomara que amanhã
pelo menos
faça sol
pra trabalhar.)
Márcia Maia
Chuvas de verão
Meus óculos,
inundados pelas lágrimas
que afogaram meus olhos,
despencaram rosto abaixo
e jazem espatifados no chão.
Meus olhos,
temendo novas enchentes,
esperam poder ficar,
neste verão,
no abrigo de seu coração.
Lenise Resende
CHOVE CHUVA...
Uma chuva
chocha e chata
chapinha o chão
e chacoalha
o choco coaxar
de coxos sapos.
Edmilson Sanches
Re: CHOVE CHUVA...
Vontade de chuviscar
sobre a sua bela chuva
chapinhar sobre seus versos
nada chochos
e o coachar dos sapos
calar...
Mas então penso no "És"
ou no Sou, na minha alma
que a pobre não consegue
expressar tudo o que quer
(isto é: quando quer...).
Maju Costa
Re: CHOVE CHUVA...
Gosto da chuva
gosto de dias chuvosos
a umidade
as janelas que suam
cheiro de terra
quando ainad há terra
o vento
as nuvens em procissão
Flávio Machado
Manhã de chuva
Manhã de fina chuva
e eu, cacho de uva
em pomar de sonhos
vendo o dia amanhecer
esperando ser colhida por teus dedos
desejando o orvalho de teus beijos
e antegozando a delícia de escorrer
sorvete, a sorver a taça de tua boca.
Esther Torinho
CORAGOIÁS
Chora Cora Coralina
com a chuva-severina,
corre o povo de Goiás
e a cidade já refaz
(que gente esta, com a raça
com toda a força e a graça
dessa poeta menina
eterna em nossa retina)
e a tragédia de um dia
transforma logo em poesia.
Ri comigo, Coralinda,
em tua estrela, em paz
pois tua amada Goiás
como tu, tão cristalina,
não irá morrer,
jamais.
Maju Costa
Re: CORAGOIÁS
Se levarem os rios
levam os bichos
levam as lendas
Não levem Goiás Velho,
que Goiás Velho é de Cora!
Leninha
Na d i s t â n c i a
Na escuridão
tateio sombras distantes
enquanto mudas
lágrimas gritam o teu nome.
Lá fora,
cúmplice,
a chuva chora.
Yara Daher
segunda - feira qualquer
amanheceu
arco - íris refletido
nas poças
da chuva noturna.
Flávio Machado
A Chuva... Tantos pensamentos...
Acho que nunca estive preparada para esses dias invernais em
pleno verão. E hoje ao levantar-me com a esperança
no olhar e de bem com a vida apesar dos transtornos que ela costuma
nos trazer, ouvi o barulho da chuva que ao embalo do vento quase
batia nas janelas. Ao aproximar-me apreciei pelo vidro os grossos
pingos que caíam transformando o céu, numa faixa
branca e tão brumosa que me deu a sensação
que a natureza toda se preparava para alguma transformação
importante.
Via fascinada as árvores vigorosas, as folhas que se
balançavam e as flores que pareciam se alegrar com a água
que corria em fios trazendo-lhes fonte de vida e umedecendo-as.
Ao lado disso, lá longe enxergava uma pessoa que em dia
de folga, parecia se regozijar com a liberdade que usufruía.
Recordava-me de crianças brincando, esquecidas de tudo
o mais, poças dágua respingando as pernas
nuas e a alegria a traduzir-se no sorriso espontâneo e indominável.
E muitas vezes enquanto na praia esperávamos a volta do
sol, interrompida por uma chuva de verão, a água
do mar se tornava quase instantaneamente mais aquecida como para
compensar essa arte e reação da natureza. Tudo isso
passava na minha cabeça enquanto a chuva caía quase
torrencialmente, trazendo uma nostalgia que me levava a reminiscências
ternas e prazerosas.
Quando a paisagem se tornou mais limpa e pude divisar um céu
menos carregado, percebi o quanto a chuva transformara cada um
dos elementos que eu admirava e que eram fontes de energia e símbolo
de beleza. E quanto mais olhava mais admirava, como sempre o planeta
maravilhoso.
Repentinamente tudo me entristeceu porque me lembrei de várias
ocasiões em que vira transtornada, o quanto o frio e a
tristeza é capaz de desabrigar famílias e fazer
criancinhas sentirem um frio que pode levá-las à
morte.
Sei que a chuva foi feita para irrigar a terra e fazê-la
esplendorosa e saudável, dando aos homens alimentação
e fonte de vida e que a miséria, ao contrário foi
construída pela displicência e incoerência,
que pouco a pouco tomou conta do mundo de uma forma alarmante,
transtornando padrões e desintegrando leis de bondade,
tolerância e altruísmo.
Esse dia que amanheceu frio e pálido fez-me pensar em
beleza, equilíbrio, força, fascínio, sonho
e amor reconfortante aquecendo um dia sem sol. Também me
recordou o apogeu da paixão, a ventura de momentos especiais
cercados pelo silêncio de um dia chuvoso com o barulho candente
e ritmado que marca seu úmido compasso.
Mas finalizou na tristeza de saber que milhões de pessoas,
irmãos de caminhada, não desfrutam do enlevo de
um dia de chuva e o que ele pode proporcionar de magnético
e encantador. Reconheço que em todos os pormenores da vida
os contrastes são avassaladores e nada é pleno ou
transbordante. A chuva... Tantos pensamentos, sentimentos, dores,
alegrias, impotências e a esperança sempre renovada
de que as prendas da natureza possam alcançar todos os
seus filhos... Como seria justo, compreensível e humano.
Vânia Moreira Diniz
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