Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
janeiro de 2002
A voz do Oráculo
Primeira noite
Um raio cortou o céu
Que força será esta?
Uma árvore jaz no chão
Poeira e carvão
Fumaça e fogo
De quem é esta mão?
Quem me põe no jogo?
Que ser se manifesta
Me lançando ao léu?
Ele me vê e eu não o vejo
Ele me manda seus sinais
Seu semblante escurece
A terra estremece
Um raio! Prevejo!
Segunda noite
Olhando o céu posso antever
Aquilo que via acontecer
Sei quais as estações
Sei contar os verões
Sei quando está calmo
Sei quando ele está bravo
Mas como eu o agrado
Quando cantar o salmo?
Terceira noite
Aprendi a ler as estrelas
Conheço meu destino
Construo runas, sei lê-las
Evito assim o desatino
Quarta noite
Vejo o raio no céu riscar
Eu sei o que o faz brilhar
Luz e calor
Eletricidade
... Eletricidade!
Que vão temor!
Eu desafio o furor
D'Aquele que se diz só amor!
Fira-me agora com seu raio
Brade sua voz trovejante
Aponte seu dedo um só instante
Você não verá meu desmaio
Apenas meu olhar desafiante
Quinta noite
Aprendi a Terra dominar
Desafiei o ar
Cruzei o mar
Do mundo sou o senhor
No entanto
Olho para mim
Sem o encanto
E vejo apenas dor
Onde está o entusiasmo?
Hoje só vejo marasmo
Busco a felicidade
Mas acho tristeza
Busco a beleza
E acho fealdade
Quem eu era
Quando uma Quimera
Eu construí?
Tanto tempo
e nada aprendi?
Sexta noite
Onde está o ser que eu criei
Dizendo que Ele me criou?
Pra onde eu irei
Se não sei para onde vou?
Eu nunca ouvi sua voz
Mas sempre acreditei no que disse
Para o bem de todos nós
Bom seria que existisse
Para onde eu o mandei
Quando daqui o expulsei?
Onde está agora?
Oh vazio que apavora!
Sétima noite
Eu sempre estive desde o começo
E você pergunta por que não apareço?!
Sempre a seu lado
Mas você me queria longe
Primeiro no céu estrelado
Depois na figura de um monge
O intocado, o invisível
O inacessível
Alguém de quem na culpa se escondia
E por fim me desprezando
E à não-existência me condenando
Você me chama
E mesmo me expondo
Você acha que não respondo
Ouve outras vozes e a cabeça meneia
Mil conselhos, nenhum verdadeiro
e acha que aquele derradeiro
Vinda de minha voz tão fraca
é igual ao burburinho que te tonteia
Silencie todas as vozes!
Silencie sua própria fala
Ouve aquele que não se cala!
Minha voz virá daí
De onde nunca saí
Onde sempre vivi
Bem junto de ti!
Álvaro Alípio Lopes Domingues
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