Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
janeiro de 2002
JOGO DE PALAVRAS
Você devia querer, sim! Claro, diabos! Você
chega em casa, diz que leu na revista minha nota curtíssima
(Minha Nossa, você é belíssima!) e me prova
que também é fanática por fenômenos
paranormais. E no momento em agora a provo sobre este feno observo
que seu corpo não é normal, olha só: Acaso
são estas pernas pernas de mulher comum? Aliso espremo
tremo martirizo gemo, já estou no recôncavo baiano,
carne de mãos contra carnes de pernas, nervo de Touro em
carnes de Virgem, você delira, quer, não quer...
E este busto farto, macio, carnudo, é de mocinha qualquer?
Não, não é. É tudo. Acoplo minhas
mãos em concha sobre o contorno dessas mamas, viro criança,
menino do buchão, neném. E choro quem não
chora, não mama. E mamo. E beijo. Você quer, não
quer, se treme, se torce, se mexe, se contorce, se se, se sem,
só céu, só cio, sacio, silêncio. Silencio.
Como, provo (e como provo!), comprovo: seu corpo é paranormal.
Precisa ser estudado, em minúcias, talho a talho. Detalhadamente.
Cada parte. Cada órgão. Talhado. Retalhado. Desfraldado.
Por um especialista. Por mim que tanto gosto das coisas
fenomenais, paranormais, transcendentais. Você quer, não
quer.
Você veio, de revista na mão, rostinho lindo
na cabeça, muitos recortes de jornais na bolsinha pontuda.
Você veio. De blusinha. E de bermuda. Veio da capital. Férias.
Familiares. Leu a revista. Me viu. Sobre o tapete (o "feno"
de sonos e sonhos meus) espalhamos enigmas, discos-voadores, fim
do mundo, nos espalhamos, trocamos idéias. E carícias.
Sobre o tapete nos espojamos. Nos despojamos. Trocamos de roupa.
Adão e Eva. Você quer, não quer. Aqui estamos.
Nós. Nus. Recortes revoam e pousam, descansando as letras
que cochicham incertezas. Pedaços de papel nos corpos suados.
Um deles sobre o Triângulo das Bermudas. Ele, como todos
os mistérios, apenas um jogo de palavras. E de amor. Você
vibra. Agora você quer.
Um homem. Uma mulher.
Edmilson Sanches
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