Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
março de 2002
ÉTICA: A FALTA QUE ELA NOS FAZ
Sabe, sinceramente eu não entendo, ou, parece, não
quero entender. Dizem que decência, honestidade, patriotismo
é coisa de gente "quadrada", gente "careta".
Que o Brasil de hoje, o Brasil "moderno", não
comporta esse tipo de pregação. Que todos os que
tentaram... "se ferraram" (como diz a juventude, em
sua linguagem curta e carregada).
Pois bem. O de que vou falar é de "idéias"
tão velhas quanto "quadradas". A idéia
de que um país só pode dar certo se cada um agir
certo, inclusive fiscalizando e apenando os que fizerem errado.
Um país não é nada mais nada menos que a
soma dos esforços dos habitantes que nele vivem e dele
precisam.
Não há salvação para o Brasil senão
pela conquista de estágios gradualmente mais elevados de
sadias relações em todos os setores, instâncias
e estratos. Ética na política ("Ética:
um princípio que não deve ter fim", prega exemplarmente
o Rotary Club). Transparência nas ações de
governo. Dignidade e prioridade à Educação
e seus atores, até como ação indireta preventiva
de males da saúde e da segurança. (Quem se educa,
se asseia, física e moralmente). Urgência de Justiça
-- a Justiça falha porque tarda. Honestidade nos negócios.
Bons propósitos na parceria empresa-empregados. Satisfação
ao contribuinte. Respeito ao consumidor. Honra ao cidadão.
Os políticos precisam, com urgência, entender e
praticar a ética do Príncipe -- não o de
Maquiavel, mas o de Exupèry. Não é perseguição
da Imprensa, não; é fúria do cidadão:
a moral da maioria dos senhores políticos está mais
baixa que bumbum de cobra. Quando tentam tapar uns buracos imorais
aqui, abrem-se poços de indecência acolá.
Não há cristão que agüente.
E por intermédio de suas mãos legislativas e executivas
quanto os políticos não poderiam fazer por seu povo
e seu País... A questão dos efeitos da seca, por
exemplo. Nada que projetos de irrigação não
pudessem minorar, minimizar ou, até, acabar. Fale-se com
os técnicos no assunto. Veja-se, fora e mesmo dentro do
Brasil, o exemplo de regiões anteriormente desérticas.
Mas o problema não é a seca da Natureza. É
a secura dos homens. Secura ética de políticos e
sua política. Recursos subsidiados, monitorados por cidadãos
éticos, teriam uma contraprestação positiva
de surpreender. Sabe-se disso. O agricultor flagelado não
corre da seca, com a qual aprendeu a conviver. Ele corre é
da correção monetária, ou dos juros, que
geram a angústia de querer e não poder fazer. E
isso o desespera, embora não o desesperance.
O País tem jeito. Mas o jeito do Brasil é o jeito
dos brasileiros, muitas das vezes comprometido pelos "jeitinhos"
e "ajeitamentos".
Sabemos que é fácil não só falar
em ética, mas também fazê-la, praticá-la,
porque, por mais gasta que pareça a expressão, isso
só depende de cada um de nós. Não existe
ética de profissão, mas do profissional que a exerce.
Não existe ética no trabalho: a ética está
no trabalhador, porque ética é um bem individual,
de pessoa, que a aplica, como um carimbo, no decorrer do exercício
de seus papéis sociais. Quanto mais eu divido a ética,
mais ela se multiplica em mim e em minhas experiências de
vida e ofício.
Ora, se admitimos que honestidade funciona, que ser bom faz bem,
que fazer (o) bem é bom, se uma coisa boa é fácil
fazer e dá resultados, então por que isso é
tão pouco utilizado?
Urge uma ação -- antes que ruja uma reação.
Nenhuma idéia nova, nenhuma boa ação prescinde
de uma base moral. Nenhuma utopia se realizará sem a ética
e a ação do indivíduo.
O Brasil não é um caso de polícia. É
uma questão de consciência. E tudo o mais virá
por conseqüência.
Sai dessa, Brasil!
Edmilson Sanches |