Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
março de 2002
NÃO MATARÁS
Entre este fim de tarde e começo de noite cometi um crime.
Matei o tempo. O tempo de só observar, de só absorver.
De nada escrever. Acabo de cometer um crime e mereço perdão.
Matei um tempo, mas ressuscitei outro.
Assim livre, volto a dedilhar pensamentos e letras, levados adiante
pelo mundo, vasto e-mundo da virtualidade, e pelo vasto i-mundo
da materialidade, onde páginas de jornais me abraçam
um abraço de celulose e tinta, em preto e branco e em cores,
que deixam impressas em mim manchas e marcas, manchetes e rodapés.
As teclas e a tela sobre a mesa são a amante à
espera do toque gentil do tato, da voluptuosidade dos dedos, da
fúria carinhosa das mãos, do teste têxtil
do texto que se tece. É uma briga sensussexual, textual.
O sol, que espia pela janela, põe-se a se esconder, corado
de fogo e vergonha. E antes que ele me suma de todo, faço-lhe
um brinde igualmente rubro.
De copo na mão, aguardo, contemplativo e mudo, o mundo
amanhecer.
Edmilson Sanches
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