Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
março de 2002
Potencialidades da Alma
Sempre gostei da noite. De usufruir cada momento desse espaço
e saborear a esperança de um novo dia que se fará
presente trazendo novas alegrias e concretizações.
Não sei porque nunca pensamos em nada negativo quando refletimos
sobre os dias que virão.Como se nossos pensamentos estivessem
temporariamente vacinados contra qualquer visão de uma
realidade que não corresponde aos nossos padrões.
E quando a realidade se aproxima, às vezes cambaleamos
ao seu forte impulso.
Realmente somos dos extremos, porque quando a vida não
corresponde aos sonhos que apreendemos, temos a tendência
de ficar dominado pelo lado negativo e sofrermos antes mesmo que
saibamos a conclusão que se acercará de nossas vidas.
São essas surpresas que nos tornam ansiosos, mas ao mesmo
tempo nos permitem viver com uma relativa paz.
Essa noite me deixou reflexiva por longas horas. E enquanto
olhava as estrelas, sempre nos pontos de luminosidade, trazendo-nos
a claridade que encerra beleza e fulgor, pude ponderar em toda
a minha vida passada e presente e nos mistérios que se
acercaram, inverossímeis em sua incompreensão.
Enquanto ficava ali, divagando, entendi que vaidades ou orgulhos
são os elementos mais tristes e devastadores de qualquer
vida.Não que não possamos exultar por uma vitória,
ou cuidar de nosso espírito ou corpo. Apenas que nada valem,
quando não estão ligados a valores intrínsecos
e preciosos.
Foi assim que vi muito longe com se estivesse na lua a figura
de uma pessoa especial, que iluminou de forma incandescente minha
vida, e interiormente conversei com ela. Pude absorver esse sentimento
e perceber que nada é mais importante, que a paz que sentimos
em momentos de entrega interior.E ainda
tive oportunidade de compreender o valor dos pequenos gestos,
e de sentimentos que aparentemente nos parecem sem valor.
Todo um passado se apresentou a meus olhos e o colorido era
por vezes tentadoramente expressivo. Fui me aproximando daqueles
dias, com uma simplicidade envolvente e cheguei intimamente a
dialogar com uma pessoa querida. Não a vi. Mas sei que
a energia dessa pessoa é tão grande, que ela me
transmitiu a paz e o conforto que naquele instante eu estava precisando.
Não a vi, mas senti. Não falei com ela em diálogo
comum, porém na efusão de nossas almas, e rememorei
dias de minha infância e adolescência em que ela foi
a protetora e amiga incondicional.
Sentei-me, ali à luz do luar, em efusões que faziam
meu coração bater celeremente, como seu pudesse
conviver com as pessoas das quais estava saudosa.
Desconheci naquele momento qualquer alegria ou tristeza real
que pudesse estar me conturbando e vivi o presente de recordações,
certa de que as pessoas se vão, todavia sua força,
energia, bondade, amor, generosidade permanecem e se tornam sementes,
que poderão frutificar nas pessoas que elas amam, dependendo
do grau de aceitação de cada um de nós.
Eu me conservei longo tempo observando os estragos que meu inconsciente,
muitas vezes me proporcionou, e disposta a viver todos os sentimentos
que minha alma não experimentou, mas que eu deixaria daquele
momento em diante expandir em suas potencialidades, das mais simples
às mais complexas.
Foi isso que aprendi num momento de dor, que se transformou
em vivência e discernimento consciente e pleno.
Vânia Moreira Diniz
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