Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
março de 2002
MIL E UMA VEZES DENTRO DE TI
Milla...
Hummm...
Madrugada sonolenta. A janela traz-me o mesmo olhar de estrelas,
imensidão e lua.
Deitada lindamente a amada. Dela tornara-me senhor e nela escrava
isaura escravizara meu amor.
Que coisa! Em mil dias mil vezes o amor se fez e liqüefez-me
dentro dela. Sêmen sangue suor saliva sexo.
Sabe, neste momento em que acoplo minhas mãos em concha
sobre o contorno dos teus seios...
Milla. Mil
Mil corações valsou ataulfo. Mil lágrimas
chorou adelino. Mil mulheres cantou herivelto. Mil. Mil coisas.
Ronronando educadamente, um Mille (o Mille é Uno; fia-te
nele) atravessa lá embaixo a madrugada que não descamba.
A lua lá em cima acima de nós espia pelas frestas
e nos percebe nus. Agora por exemplo tuas ancas se repartem e
cada parte me aglutina me deglute amalgama catalisa catalético
cataplasma cataclismo. É assim nós dois. Fundimo-nos.
Fundimos o que podemos. E mil vezes nós nos podemos quase
tudo.
Madrugada sem horas. "Uma chuva chocha e chata chapinha
o chão e chacoalha o choco coaxar de coxos sapos".
Mil. Milla. Mil milhas nós nos andamos nossos corpos.
Mil vezes a mastro e vela tuas costas eu litoraneei. Mil vezes
tu e eu, nós, milady milord. My Lord! Mil! a imortalidade
da felicidade, a longevidade dos justos. Cada dia da árvore
da vida, mil anos. "Mil anos são como um dia",
salmeia a Bíblia. Adão perdeu sua vida de mil anos
porque pecou uma vez. Uno. Mille. Pecamos adamicamente mil vezes
e, eu e ela, quanto tempo perdemos? Sei lá.
Milla... Esse teu corpo mil-flores que incenso, millefoliu que
desfolho, despetalo talho entalho e criminosamente retalho, te
entalo, ingresso em teus lugares vazios espaços apertados
até tu te sentires completa ocupada lotada. Lotação
esgotada. Amar a mil (kama sutra é prefácio perto
de nós).
Milla. Una. Mil e um motivos para amar mais uma vez. Mil e uma
trapalhadas fez sinhô. Mil e uma noites marchou joão
de barro. Mil e uma noites eu conto. Mil. Mil... e uma vez mais
dentro de ti. Assim, "aliso espremo vergo tremo martirizo
gemo: nervo de Touro em carnes de Virgem". E tu também
de tremes te torces retorces contorces te mexes remexes tu gemes
nós gêmeos...
Como uma lava leve neve láctea meu eu líqüido
te leva ao enlevo e percebo tuas bordas íntimas róseas
tua vulva ígnea qual miniatura de vulcão preparando
sua erupção e regurgitando de prazer e jorro. Quase
morro. E essa calma quase morte que se afoita e se afoga em nossos
corpos quase mortos sem fôlego...
As janelas escancaram e deixam passar a brisa açoitada
pela chuva. Surpreendida na sua espreita, a lua espiã puxa
para si uma nesga de nuvem que passeava plúmea e plúmbea
e se esconde, agora corada de vergonha e relâmpagos.
Cá embaixo, na cama, Milla e eu levantamos um brinde igualmente
rubro. Depois, liberados os copos, de corpos nas mãos,
esperamos o sol, o solene amanhecer.
E, logo mais, manhã cedinho, novamente acontecer...
Ahhhnnn....
Edmilson Sanches
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