Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

Diálogo

" - Oi! Tudo bem?"
" - Tudo! E com você?"
" - Tudo bem! Como foi seu fim de semana?"
" - Calmo ... E o seu?"
Conversa alegre, em uma segunda-feira cinzenta, sobre um final de semana de muito sol, passeios, sorrisos e conversas que, os personagens desse diálogo, compartilharam com suas respectivas famílias.

Se ele soubesse, quantas vezes, enquanto sorria, ela lembrou do sorriso dele, o que pensaria?...
Por não saber, ela nada disse...
Se ela soubesse, quantas vezes, enquanto ouvia alguém, ele lembrou das palavras dela, o que pensaria?...
Por não saber, ele nada disse...
Se eles soubessem quantas vezes, foram vistos, olhando o nada, como se algo vissem, o que pensariam?...
Por não saber, eles nada pensaram... E, nada disseram...

Maduros, modernos, independentes, conscientes - conversam sobre fatos e omitem sentimentos.
O que fazer, o que dizer, como fazer, como dizer? Sempre sabemos, quando somos espectadores.
Os espectadores são sempre mais espertos que os protagonistas. Protagonistas, quando guardam a inteligência no bolso, junto ao coração, oscilam entre momentos de lucidez e ignorância, irritando a platéia, que indaga:
- Será que eles não percebem?

Talvez percebam, em seus momentos de lucidez, os sentimentos ditos em olhares, suspiros, mãos geladas...
Momentos que, sempre terminam, quando os batimentos do coração se aceleram com a presença do outro, mesmo que seja através de sua voz ao telefone.

Se, ligado ao telefone, houvesse um detector de mentiras, com uma tela, onde o diálogo desse casal, aparecesse transformado, pela sinceridade, veríamos:
'' - Oi ! Tudo bem?'
" - Não ! Senti muitas saudades. E você?'
" - Também senti saudades! Como foi seu fim de semana?'
" - Calmo... mas sem você..."

Lenise Resende