Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

Pecado Natural

Noite alta. A lua, apaixonada princesa,
cortesã pela chama do amor acesa,
cheia de sonhos e planos,
veste um manto dourado de prata
e em loucos soluços desata
e desaba sobre as águas do oceano.
Refugia-se plena de amor nesse altar
e colhe estrelinhas no fundo do mar.
O mar enche-se de coragem
e na voragem que o consome
faz-se louco, faz-se homem
não resiste à doce oferta:
beija a lua, maquiada de vermelho
apossa-se desse corpo que requebra
refletido em seu espelho.
E enroscam-se os dois amantes
- a doçura aliada à força bruta
por entre profundidades e grutas
soltando gritos, gemidos
rugidos roucos
em frêmitos loucos
nunca dantes sonhados ou vividos.
E na falta absoluta de sereias
o mar não deixa de se fartar:
aproveita-se da bruma
inunda pedras e areias
e tudo se enche de espuma
[sêmen do mar].
Então o mar adormece.
A lua entoa uma prece
agradecida e satisfeita
desse amor vibrante e louco
Vai fazer nova colheita
vai mostrar a sua face
do outro lado do globo.

Maria Esther Torinho