Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

O que o vento levou

Depois dessa tempestade,
chuva de granizo, ventos
derrubando moradas,
quem somos nós
que já amantes não somos
e quando o fomos
um ao outro se definia?
Quem somos ou seremos
além do livro triste,
minhas poesias?
Sentada, olho
o telhado distante,
à minha frente o teclado,
indiferente,
lançando palavras ao vento
inconseqüente,
meus tormentos
e dúvidas permanentes.
Passo a passo, vivo o dia,
Em cada hora uma lápide
De nova e morta emoção,
Mal velada.
Novelo na boca,
pena e boca cerrada.
Estás de mm afastado,
Escreve o teclado,
E não nos veremos mais.
na certa nos encontremos
em situações formais,
tais como devolução de chaves
que não abrem nem fecham
as gastas magias.
Pode ser que um dia
tenhas outra a seu lado
a ouvir-te a voz
que me enlouquecia.
Quanto ao Prelúdio e ao esboço
que seria sinfonia,
escuto-os sempre,
até quando lavo o rosto.
Lembro tanto de quando te ouvia
E sentia tédio, pensando
Até quando, até quando?
Pois o quando chegou e ...
estou chorando.
Agora é andar passo a passo,
Sem pensar que é para sempre,
esse nunca mais.
Viverei cada momento
na transversal do tempo
que me resta e que,
para mim, é demais.

Clélia Romano