Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
dezembro de 2001
Por um momento, apenas.
Por vezes um desânimo me acerca hediondo e fico a imaginar
se não devo guardar tudo que escrevo. E ir acumulando textos
como fazia antes que o computador tomasse conta de minha vida.
Escrevi desde os sete anos de um modo compulsivo, porque sem isso
não saberia viver. Mas pergunto-me, se não houvesse
essa necessidade inquebrantável, se adiantaria escrever.
E vejo que nesse país só mesmo aqueles que já
tem um nome nem sempre adquirido com tanto esforço, mas
muitas vezes até por uma sorte maior e quase genética
conseguem um ligar ao sol nesse difícil caminho de escritor.
Minha família é composta de muitos escritores
e meu avô era um de bastante renome. Mas me pergunto: Vale
a pena expor teorias, abrir a alma, fazer com que o coração
bata desordenado e esperançoso ao colocarmos para fora
nossos sonhos, esperanças, amores, tristezas, alegrias,
ilusões com o olhar brilhante num mundo cujo horizonte
nos parece em certos dias escuros e densos?
Aprendi sempre a força da fibra de mulher guerreira e
tenho procurado exercitar isso pela minha vida afora.Enfrentando
os percalços e continuando sem sequer procurar na hesitação,
um porto em que pudesse parar. Mas tenho vontade em certas ocasiões
de guardar entre meus arquivos no computador, tudo que escrevo.
Escrevo porque preciso, como o ar que respiro, como fonte de
minha própria vida, sem o que talvez não conseguisse
o entusiasmo natural, e essa vibração que todos
os que me conhecem esperam de mim.
Ontem recebi uma notícia excepcionalmente triste. Uma
pessoa que eu amo está com câncer e condenada. Ela
me conheceu quando eu era ainda uma garota, e carregava dentro
do peito uma esperança inabalável. Esperança
que continua acesa em quase todos os momentos. Mas que uma notícia
com essa me faz perguntar: Por que estamos aqui, afinal?
Sei que a resposta tradicional é: Para cumprirmos nossa
missão! Acrescento que nossa missão é muita
relativa. Relativa, e em suas proporções, nem sempre
com o peso que gostaríamos que tivesse.
Escrever é para mim como o coração bater.
Preciso que haja essa condição para que possa continuar
a viver. A percorrer com olhos cheios de luz o meu caminho, para
que continue nessa estrada ora iluminada, ora escura como breu.
Preciso
continuar ininterruptamente. Mas não sei se vale a pena
expor nossa alma e mostrar uma senda que a ninguém interessa.
Desde muito pequena li desesperadamente, entrando em cada frase
ou período do escritor, e procurando captar o que nos transmitia
de verdadeiro, emocionando-me com suas histórias e querendo
entender os anseios que se lhe escondiam interiormente. Aprendi
também a ler sempre sua biografia para que pudesse mais
me envolver nos conceitos apresentados.
Vejo com tristeza que o nosso país não se preocupa
com isso. Não dá condições. Não
ouve. Não fala, a não ser a quem lhe interessa,
possa lhe dar votos, ou seja, influente o bastante para que consiga
doar cargos. É isso que as pessoas que podem fazer um pouco
pela cultura pensam: Audiência e popularidade.
Continuarei a escrever sempre, com a mesma freqüência
e independente de qualquer reconhecimento. Mas vejo lamentavelmente
que até em pequenos ambientes há uma luta renhida
para sempre vencer e tropeçar no outro com uma força
deplorável e triste.
E enxergando um longo caminho, interrogo-me insistentemente
sobre o verdadeiro sentido da vida. Sei que são dias intercalados,
e que as estrelas só luzem porque ontem as nuvens apareceram
cinzas e propiciando uma tempestade devastadora.
É assim viver! É assim sonhar! É assim
amar! É assim caminhar nesse mundo em todos os rumos que
ele nos oferece. É assim morrer!
É assim! Perguntas sem respostas, palavras ao léu,
conceitos desprezados, e a procura sempre, infelizmente, rumo
a interesses que nem sempre levam à verdadeira felicidade
e cujo fruto enriqueceria nossa alma, traria benefícios
para os que precisam ou faria desse planeta algo justo e sem as
exclusões que nos perturbam, mas que verdadeiramente não
procuramos lutar para exterminá-las.
Se tudo que falei, for utopia, deixe-me exercer essa utopia nesse
momento. Agora, enquanto escrevo.Por um momento apenas. Por um
momento!
Vânia Moreira Diniz
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