Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

O Deus menino
No presépio é sempre pequenino
Sorrindo nos lembra que inocentes fomos
E que neste momento, também somos

Feliz natal

Álvaro Alípio Lopes Domingues

Meditação (prá lá de Marraquesh)

Se algum Deus existe
e sei que sim,
mas a ouvir humanos
acho que não,
algum Deus que
não se importe
de mudar suas linhas
tortas, bem tortinhas,
se não for abusada...
peço que modifique
a morada do pobre.
Que edifique a consciência
de cada um,
para lutar contra
droga e pobreza.

Sei que todo mundo quer,
não só o presidente,
não só o advogado,
que toma chuva e
fica doente,
ou o mendigo das ruas,
vivendo sob as pontes,
ou o engenheiro usado
para contruir as pontes
que abrigam os coitados
que morrem crucificados
de fome.

Deus, se algum há,
que nos ouça:
nós queremos feijão,
e mais: queremos feijoada,
e se der, irmãos, rabanada,
por que não?
Aqui, neste Brasil da peste
viemos de portuga,
d`Africa, de Trieste na Italia,
donde vim eu.
E viemos de outras bandas,
no norte vieram e holandas,
de indios amazônicos,
donos da terra de antes
e destinos irônicos.

Por isso Deus, se escutas,
veja a árvore da Leninha,
não que seja grande coisa.
Parece feita por criancinha.

Mas deve estar em Deus
entender que temos muito a falar
em pequenas linhas.

Escuta, se puder
o ranger da labuta
de cérebros e músculos.
Não mande teu filho,
por enquanto o pobre
tem triste sina.

Antes de tudo:
ensina.

clelia romano

A SABEDORIA DO MESTRE

Versejo à chama da vela
(temporal cortou a luz)
sobre o Natal de Jesus.

A manjedoura... o menino
no meio dos animais...
Já pensou como seria há dois mil anos atrás?...

Nascido em berço de fenos
ensinou-me o Nazareno:
quem pode o mais, pode o menos...

Porém, pregado, na cruz,
parecia um perdedor...

É difícil poder tudo e espalhar somente amor...

Leila Míccolis

Natal

Silêncio
ao avesso
e o inverso.

Márcia Maia


Márcia, com a sua permissão

Natal

silencio
e procuro
novos sons.

Beijos natalinos

Flávio Machado


Há tanto o que comemorar!

No ano passado, decidi não comparecer a ceia de Natal da família e fiquei em casa sozinha. O presente que mais desejava, já havia recebido: uma mini-aula de informática, dada por minha filha. Aprendi a ligar e desligar o computador e, entrar na internet, em sala de bate papo.

Foi muito difícil mas gostei do desafio e, também, não compareci ao almoço de Natal. Preferi continuar no computador. Achei que não havia o que comemorar, me sentia triste, com saudade de antigos "Natais". Presa as lembranças do passado, me afastei da família e das comemorações.

O ano passou rápido e novo Natal se aproxima. Os problemas são quase os mesmos, pouco mudaram e, o mundo, parece não ter mudado muito em um ano. Internamente, no entanto, mudei tanto que, penso, ter renascido naquela solitária noite de Natal. Ao me afastar do Natal, renasci e, como criança que aprende a estar no mundo, entrei no mundo virtual disposta a aprender.

Escrever e guardar na gaveta, por não ter a quem mostrar; pensar e guardar o pensamento, por não ter com quem falar - embotam o cérebro. Ao conversar com pessoas pela internet, precisei reaprender a usar a memória e encontrei, intactas, lembranças e habilidades que dava como perdidas. Há muitas afirmações falsas sobre a internet e, uma delas, se refere a letra. Minha letra está mais bonita, minhas mãos estão rápidas, com excelente coordenação motora. Estou raciocinando com mais facilidade e, chego a pensar, às vezes, que fiquei mais inteligente.

Meu Natal, esse ano, começou em novembro. Coloquei na nova home page, somente uma página de Natal com duas poesias mas, lentamente, fui me envolvendo no espírito natalino. Cada mensagem, poesia, cartão ou imagem de Natal e Ano Novo, que chegavam por e-mail me comoviam. Para inaugurar a página de cartões virtuais, escolhi o tema Boas Festas! E, para confeccioná-los, precisei pesquisar meus antigos cartões feitos artesanalmente. Em casa,
a família começou a entrar no clima e, todas as noites, a árvore de Natal permanece acesa.

Há todos os tipos de Papai Noel, sinos e velas, espalhados pela casa (muitos feitos na escola por minha neta). É muito comum, que haja um CD com músicas de Natal tocando e, quando não há, escuto alguma midi enviada junto com uma mensagem. As letras dessas músicas são tão singelas e as poesias que os amigos me enviam tão lindas e comoventes, que fiz uma nova página especial de Natal. Não consigo guardar essas mensagens só para mim, preciso compartilhá-las.

No dia 24 de dezembro deste ano, não sei onde será a ceia da família. Sei, porém, que não estarei sozinha. Estarei comemorando junto aos meus familiares e o computador estará desligado.

O melhor presente que podemos dar aos nossos sucessores (filhos e netos) no dia de Natal, são boas lembranças. Esse foi o melhor presente que nossos pais e avós nos deram.

(Boas Festas ! Que neste Natal e em cada um dos dias do Ano Novo haja Paz, Amor e Serenidade em sua vida e seu lar. - dezembro de 2000)

Lenise Resende

Amém

Luzes reluzem aos olhos.
Aos olhos brilham, Jesus.
Nasceu o menino é natal!

Seja Natal! Amém!
— Tia, dá uma coisa pra comer?
Não tem. Não tem. Não tem.

Você não tem casa, não, menino?
— Tia, tô com fome. Tem pão?
Não tem. Não tem. Não tem.

Luzes apagam aos olhos.
Aos olhos mortos, Jesus.
Morreu o homem é feriado!

Seja natal! Amém!
— Tia, dá qualquer coisa?
Não tem. Só tem, desdém.

Douglas Mondo