Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

Amigos...

escrevi esse poema agorinha. Depois de visitar a mae de minha amiga que morreu ha tres anos. Era uma amiga para sempre e se foi... só lembro de quando fui ao seu velório. Cheguei à meia noite e ela estava fechada, sozinha. Abriram para mim. Tive um ataque histérico assim que me deixaram a sós com ela. Gritei que ela não tinha que ter fumado tanto, visto seu irmão, morto do mesmo problema, visto sua irmã mais velha presa numa cama com balão de oxigênio, sem poder respirar. a ponto de nem nesse momento deixar livres os pouos familiares para lhe render homenagem, minha pobre querida.
Berrei, berrei, eu e ela. Ficou calada...pela primeira vez. Se falasse, diria que ia parar no dia seguinte, balelas.

Desde então, passei a visitar a mãe dela...interessante, só depois que a irmã que vivia sob oxigenio morreu. Acho que tomei as dores da minha amiga.Ela dizia: por ultimo eu, Clelia... Primeiro o morto João Batista, depois, a doente Maria Laura... e eu?
Não existo.

Ela faria aniversáriao dia 27 de dezembro. Não mais.
E hoje, retribuindo todas as vezes que ela me visitou e a meus filhos, cobrando que eu não visitava sua mãe...eu fui.

E o poema surgiu depois.


Mais uma ano na Dinamarca

Hoje, hoje...
fiquei triste.
Não sei se é
por que visitei Dona Laura
velhinha e astênica
perdida em cadeias mnênicas,
mal funcionantes.
Antes fora antes.
Pode ser.
Meus olhos de lentes verdes
Pingaram uma gota dos rios
Coloridos amazônicos
E transoceânicos.

O que dizer a uma mente exausta
de criar novas sinapses?
Que tudo é assiim mesmo?
Que é tocar pra frente
Sem filhos, mesmo,
Mortos a esmo?
Não, não disse isso.

Expliquei que cada dia
Seria diferente
Embora sem semente
Ou sem terra.
Em verdade
Quem tem semente
E não tem terra, sofre,
E quem tem só terra...
Se ressente.
Essa é a vida.
Não existe gente contente.

Clélia Romano