Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
julho de 2001
PROSA POÉTICA
Hoje não quero que ninguém me leia...
Hoje não
quero que ninguém me leia. Desejo derramar minha alma em alegrias,
carinhos, dor, sonhos, felicidades, tristezas e entender que só
minha alma a recolhe. Quero escrever sem prestar atenção
às vírgulas ou a uma palavra mal digitada.
Hoje não
quero que ninguém me leia. Vou deixar que meu coração
chore antes que as lágrimas desçam e sonhar com o espaço
naquela nuvem espumosa e cinza que me conduz diariamente a pensamentos
de suavidade e esperanças.
Hoje não
quero que ninguém me leia. Desejo repetir as palavras com ênfase
e entender os anseios de meu interior conturbado nos sentimentos positivos
ou negativos, espargindo tudo que de verdadeiro eu fiz e construí
dentro de mim mesma.
Hoje não
quero que ninguém me leia porque anseio escrever tudo que ninguém
quer ouvir, e manchar todo o espaço com sentimentos ultrapassados
e incompreendidos, emocionar-me e soluçar, falar de coisas
pueris e até construir uma tese sobre elas.
Hoje
não quero que ninguém me leia na mistura de sensações
boas e ruins que me conduzem ao mistério da vida e me energizam
na força dessa natureza gigante e poderosa.
Hoje não quero que ninguém me leia, veja, enxergue, sinta
o que de profundo, carente e triste quis expressar em cada período
do meu texto, e nas entrelinhas que vou colocando quase sem sentir.
Hoje quero meu momento de egoísmo e privacidade e a sensação
que talvez a melhor forma de escrever seja imaginando que cada linha será
particularmente entendida.
Hoje não quero que ninguém penetre em meus mistérios,
e desejo apenas sentir meu próprio coração a bater
ansioso em cada letra formando as palavras que amenizarão qualquer
emoção sufocada há longo e dilacerante tempo.
Hoje não... Não quero que ninguém me leia . Não
quero!
Vânia Moreira Diniz |