Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  julho de 2001

Dedico a prosa abaixo, à Márcia, que por conta daquele poema maravilhoso 'de amor antigo"... me fez pensar...

Fim

No começo era doce, feito delicada sobremesa, que se saboreia com gosto e desliza garganta abaixo, aveludada e macia. Mas a receita desandou sob as mãos, pesadas de tanto mexer panelas, e os ouvidos, como os de um mercador, acostumaram-se à cantilena irritante de vincos tortos e colarinhos amassados. Os olhos ficaram baços e os lábios perderam o brilho, esquecendo-se do primeiro beijo e dos agarramentos ao pé da escada. E o que era doce se acabou em travo, de fruto verde e amargo. A casa, outrora alegre, se abria agora aos conselhos de tia Dita, que a pretexto de visita, só sabia contar do casamento desfeito de uma prima e de como, na família, mulher largada tornava-se propriedade coletiva.
E o que era doce se acabou em medo. Todas as vontades de recomeços se perderam nos vãos ordinários das madrugadas e o que restou, foi só lembrança pequena e morta, sepultada de qualquer jeito sob a lápide muda de um colchão de molas.
E o que era doce... se acabou em nada...

Mariza Lourenço