Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  julho de 2001


Aquarelas de mim  

Nasci branco:  
reluzente de vida, 
fui cristal que brilhava 
que brindava 
à grandeza da vida. 
Pouco mais tarde fui verde 
e vicejei em veios de esperança. 

Em outro momento 
fui o rosa adolescente: 
em sonhos de amor 
viajava perdida. 
Logo em seguida 
fui fogo vermelho 
fincado na flama da paixão. 
E logo depois fui cinza 
fui chama que finda 
no fundo do coração. 

Em outros momentos tantos 
banhada em prantos 
perdi a doçura; 
fui o ocre do ódio, da amargura 
enfrentei fragilidades 
deparei-me com o cinza da auto-piedade. 
fui o roxo da saudade. 

Então perdi todo o brilho e viço,  
cheguei ao fundo do poço. 
mergulhei na completa ausência de cores; 
Negro, só não conheci a ausência de dissabores. 

E quando pensei não haver mais cura, 
vi em mim renascer uma sombra do antigo céu; 
por obra de uma esquecida paleta de cores 
de um anjo, atravessei a porta escura 
e fiquei assim: miscelânea de dores 
em tom pastel.  

Maria Esther Torinho